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Marisa Furtado assina bios de artistas como Henfil e Will Eisner

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Pedro de Luna, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO - Quando era mais jovem, a diretora Marisa Furtado colecionava quadrinhos, gostava de Will Eisner, do Demolidor do Frank Miller. E sua maior colaboração para os fãs na nona arte são sete episódios independentes sobre quatro super-heróis da vida real. Ela hoje merece a credencial de documentarista de quadrinhos , tendo assinado filmes sobre Eisner, Henfil e Ziraldo. Uma rara amostra do trabalho de Marisa será exibida nesta quarta-feira pela TV Brasil, às 20h: um longa sobre a vida e a obra de Jerry Robinson, um dos expoentes da Era de Ouro dos quadrinhos nos EUA. No filme, entrevistados como Stan Lee, Jules Pfeiffer, Joe Kubert, Carmine Infantino, Chico Caruso e Ique falam sobre Robinson, que criou para a DC Comics personagens com Robin e a Mulher-Gato.

Mas como começou essa história?

Fiz parte do receptivo internacional da 1ª Bienal Internacional dos Quadrinhos no Rio, em 1991 lembra Marisa. Como Will Eisner ficaria poucos dias, aqui e tinha várias atividades programadas, fiquei de cicerone dele. Dei uma atenção exclusiva e tanto ele quanto a esposa Ann se paixonaram por mim. Começou ali uma amizade que durou até a sua morte, em 2005.

A iniciação de Marisa como documentarista aconteceu quase por acaso. Um jornalista paulista estava desenvolvendo um programa sobre HQs e precisava de alguém para apresentar. Foi quando ela recebeu o convite para o aniversário de 80 anos de Will Eisner em Boca Raton, na Flórida, que renderia a primeira reportagem sobre o autor de clássicos como The Spirit e Avenida Dropsie. Em 1997, Eisner anunciou que viria ao Brasil novamente. Era a melhor oportunidade para Marisa fazer seu documentário. Batizou o documentário de Profissão cartunista (não existe a palavra quadrinista em inglês, apenas cartoonist). O lançamento aconteceu em 1999 no Rio e São Paulo com a presença de Eisner.

O segundo documentário foi sobre o cartunista Jerry Robinson. O filme ganhou o Prêmio HQ Mix em 2001. Marisa começou a pensar nos próximos biografados quando encontrou Ivan Cosenza, filho de Henfil, vendendo camisetas numa feira de moda que acontecia no Jardim Botânico.

Ele guardava o acervo do pai no quarto da empregada. Tudo estava se deteriorando e não havia nada digitalizado. Então nós o contratamos lembra a diretora.

Desta vez, Marisa conseguiu no antigo prédio do Jornal do Brasil, na zona portuária, uma relíquia que valorizou ainda mais o trabalho:

Descobri um cassete de uma entrevista para a Rádio JB na qual o próprio Henfil ia contando a sua trajetória profissional. Usei a voz dele como guia do filme, que também ganhou o HQ Mix em 2002.

Por ser amiga de Ziraldo, a diretora decidiu que ele seria o próximo. Mas foi um parto complicado.

Eu me dediquei um ano ao projeto. Roteirizei, editei, dirigi e perdi meu bebê nesse mesmo período. Como na experiência anterior, pedi ao Ziraldo que ele mesmo fosse o narrador.

Mais uma bola dentro. O filme foi selecionado no Festival do Rio 2004. Tempos depois, em janeiro de 2005, o amigo Will Eisner faleceu durante uma cirurgia cardíaca.

Quando ele morreu, decidi tirar meu dinheiro da poupança e banquei a versão em inglês de Profissão cartunista, que foi lançado em DVD nos EUA e Canadá. Está vendendo muito bem, inclusive para exibição na internet.

O maior absurdo é que, passados vários anos, nenhum dos documentários produzidos pela diretora está à venda no Brasil.

Já fui a todas as distribuidoras. Eu levei a série inteira para a RioFilme e eles disseram que precisa vender um mínimo, o que acham inviável para estes produtos.

Sobre a biografia de Jerry Robinson, Marisa conta:

A emissora licenciou para duas exibições por ano, então o que as pessoas podem fazer é ligar pra lá e pedir que passe mais vezes ou que façam os DVDs. Enquanto isso, estou me dedicando a uma série sobre amamentação, área com grande desinformação no Brasil, no qual também haverá participação de um ou dois cartunistas.