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O Seminarista, de Rubem Fonseca: melhor de 2009 para leitor do JB

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Bolívar Torres, Jornal do Brasil

RIO - A crítica teve suas ressalvas, mas o público aprovou. O seminarista, 11º romance de Rubem Fonseca, foi escolhido pelos leitores do Jornal do Brasil como o melhor livro publicado no país em 2009. Um dos lançamentos mais aguardados do ano, o livro representava não apenas o retorno do escritor ao gênero depois de quatro anos (seu último romance havia sido Mandrake, a bíblia e a bengala, de 2005), mas também seu primeiro trabalho desde a surpreendente transferência da Companhia das Letras (onde era editado desde 1989) para a Agir. Completando a lista de novidades, trata-se da primeira obra literária inédita a sair no país com versões para Kindle e iPhone

A repercussão do livro foi enorme e comprova a capacidade de renovação de Rubem Fonseca afirma Paulo Pires, editor de O seminarista. Ele começou a conversar com um novo público, mais jovem. O romance mostra este pique jovial dele, com uma grande história contada de forma ágil. Um estilo que a crítica pode não gostar, mas que os leitores adoram. Fonseca utilizou a liberdade de sempre, de um escritor que tem o domínio absoluto do que faz.

A busca por um público mais amplo e um possível reposicionamento de sua obra no mercado talvez esteja na origem da mudança súbita de editora. Disputado por diversos grupos editoriais, interessados nas altas vendagens de obras como Agosto (ainda hoje a mais lucrativa do autor), o escritor acabou, em abril, firmando um acordo com a Agir. Especula-se que o acerto entre as partes não tenha saído por menos de R$ 1 milhão. Pires lembra que a negociação, mediada pela agente Lucia Riff, foi rápida e objetiva.

Ele sabia o que queria conta. Seus livros já eram muito bem editados, mas ele tinha motivos particulares para trocar de editora, e confesso que não tenho a menor ideia de quais eram. E então veio conversar com a gente. Que editora não estaria interessada em ter um autor do porte de Rubem Fonseca?

Até agora, a Agir relançou os dois primeiros livros do autor: as coletâneas de contos Os prisioneiros (19) e Lúcia McCartney (19), acompanhados de um apanhado de críticas feito pelo jornalista Sérgio Augusto, amigo do autor desde os anos 60. O mesmo deve acontecer com o restante de sua obra, que será republicada inteiramente de dois em dois livros, a cada dois meses.

Última incursão do romancista no thriller, O seminarista traz um novo rosto à vasta galeria de personagens fonsequianos: o cínico e estóico matador de aluguel José, apreciador de pistolas, poesia, rock e aforismos latinos, aprendidos no tempo em que era seminarista, e que volta e meia ressurgem em sua mente entre um e outro assassinato todos intermedia dos por um misterioso Despachante . Por mais difícil que seja avaliar se este é um dos personagens mais pessoais de Fonseca, o fato é que o autor transferiu para ele alguns de seus próprios gostos e hábitos. Disposto a se aposentar e aproveitar uma vida tranquila ao lado da amante, José tem seu projeto ameaçado por um antigo cliente, que começa a persegui-lo.

Para o editor Paulo Pires, é possível que esta seja a primeira de muitas histórias de José, que já havia aparecido em outros três contos da coletânea Ela e outras mulheres (2006): Belinha, Olívia e Xânia. Fonseca teria lhe confidenciado que o personagem pode se tornar recorrente, como Mandrake.

Editar Rubem Fonseca quase não dá trabalho explica Pires, lembrando o processo de sua primeira colaboração com o autor. Ele entrega o livro redondo. O nosso maior trabalho, na verdade, era pensar a estratégia de lançamento.

A busca por uma melhor comunicação com os leitores jovens não poderia ignorar as potencialidades abertas pelas ferramentas da web. O livro ganhou um trailer na internet, narrado pelo próprio autor, que, aos 84 anos, continua ativo como um garoto.

Entre os projetos para 2010, há a previsão de um livro inédito e um audiolivro (cujo narrador ainda continua indefinido), além da versão em quadrinhos das histórias de Mandrake, que deverá sair pela Desiderata. Até fevereiro, ilustradores poderão enviar suas versões do famoso dublê de advogado e investigador, protagonista de contos como O caso F.A., para o site www.acaradomandrake.com.br. As feições do personagem serão escolhidas pelo pelo próprio escritor, através dos trabalhos enviados à página.