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A atriz Mariah Teixeira se divide entre o teatro e o cinema

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Daniel Schenker*, Jornal do Brasil

RIO - O cinema abraçou Mariah Teixeira. Melhor atriz no Festival de Brasília por seu trabalho no contundente e polêmico Baixio das bestas (2006), ela voltou a ser premiada este ano, na mesma mostra, pelo curta-metragem Água viva (2009), no qual interpreta uma adolescente que passa por um processo de gravidez psicológica depois de se envolver com um empregado de seu pai. O rosto de criança despista, mas Mariah já tem estrada. Aos 24 anos, a atriz, nascida em João Pessoa, morou no Rio de Janeiro, onde cursou a Casa das Artes de Laranjeiras (CAL). Vive, atualmente, em São Paulo, fazendo teatro com o diretor e dramaturgo Francisco Carlos, ao lado de colegas com nome firmado, como Marat Descartes, Maria Manoella e Gustavo Machado. Nada foi exatamente planejado no percurso de Mariah.

Vim para o Rio fazer CAL aos 16 anos. Meu pai, Tavinho Teixeira, se formou na primeira turma da escola. Fui morar com ele. Num determinado momento, ele quis voltar para a Paraíba e eu decidi ficar. Minha família quase rompeu comigo por causa disto conta Mariah, que começou a vender bem-casados para complementar o sustento.

Até que a primeira oportunidade chegou: a possibilidade de fazer a protagonista de Baixio das bestas, filme de Cláudio Assis centrado em Auxiliadora, uma menina explorada sexualmente pelo avô (Fernando Teixeira) na região da Zona da Mata pernambucana.

Gravei uma cena-teste e mandei pelo correio. Cláudio gostou e pediu para ir até Recife lembra.

O diretor pernambucano não economiza elogios.

Mariah é maravilhosa, verdadeira, espontânea. Veste a camisa do projeto. Não está no meu próximo filme, Febre do rato, simplesmente porque não há papel para ela garante Assis.

Antes de começar a filmar Baixio em Nazaré da Mata (cidade de 30 mil habitantes a uma hora do Recife), Mariah passou por uma preparação comandada pela atriz Marcelia Cartaxo, também integrante do elenco como uma das prostitutas.

Investimos numa naturalidade destituída de grandes gestos. Mexemos com o lado íntimo. Trabalhamos a exposição e a repugnância. Afinal, estávamos diante de uma personagem sem perspectivas. Mariah transmite inocência, apesar de ser rebelde, sensual, viva sublinha Marcelia.

Mariah entrou em contato com a realidade local.

Em Nazaré da Mata há muito abuso contra a mulher. Íamos para o maracatu. Era preciso cuidado, os caboclos bebem demais recorda.

Para fazer a personagem, a atriz precisou emagrecer três quilos.

Era importante para que eu ficasse com corpo de criança. Claudio procurou filmar as minhas cenas em ordem. As mais difíceis, de nudez, ficaram para o final conta.

Ainda morando no Rio, fez teatro com o grupo Nós do Morro A frente fria que a chuva traz (2006), de Mario Bortolotto, sob a direção de Caco Ciocler e com o Coletivo Improviso Não olhe agora (2007). Ensaiou uma aproximação com o Teatro Oficina: participou de uma leitura de Cipriano e Chantalan, de Luís Antonio Martinez Corrêa, e chegou a ensaiar Taniko, o rito do vale, última criação de Luís Antonio.

Apesar de Zé Celso ter me chamado para entrar no Oficina, acabou não acontecendo. Mas fiz produção de eventos por lá diz.

Mariah, porém, entrou em contato com o já citado diretor Francisco Carlos, com quem trabalha até hoje em espetáculos como Românticos da idade mídia (2009), que deverá retomar temporada em janeiro, e A expedição dos amantes da máquina, apresentada pelos atores em ocasiões determinadas porque precisam de verba para colocá-lo em cartaz. E conheceu também Rian Batista, baixista da banda Cidadão Instigado, que se tornou seu marido.

O cinema seguiu batendo em sua porta. Surgiram participações em Se nada mais der certo (2008), de José Eduardo Belmonte, vencedor do Festival do Rio no ano passado, Lula, o filho do Brasil, de Fabio Barreto, com estreia marcada para 1º de janeiro, e no também inédito Jardim Atlântico, de Jura Capela.

Foram ótimas participações, ainda que bem rápidas. Em Se nada mais der certo, minha cena foi, em boa parte, improvisada. Belmonte disse que se acontecesse algo diferente deveríamos seguir em frente. Luiza Mariani, de fato, fez uma coisa que não estava prevista: entrou possessa e partiu para cima do Cauã (Reymond) evoca Mariah, que, no filme, interpreta a funcionária encarregada de cortar a luz do apartamento dos personagens de Luiza e Cauã.

Na última edição do Festival de Brasília, a atriz representava os curtas Água viva, de Raul Mourão, e Lembrança (2009), de Maurício Osaki.

Durante as gravações, Mariah conciliou uma postura profissional com uma energia cativante. Ela tem uma intuição forte e toma decisões conscientes ressalta Raul.

Maurício Osaki, por sua vez, procurou distanciar Mariah de um certo padrão de personagens:

Percebi que costumavam chamá-la para interpretar meninas pobres do interior. Quis oferecer a ela um papel contrastante, urbano.

*Especial para o Jornal do Brasil