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Alexandre Brandão reúne duas novelas para discutir cinema e internet

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Duílio Gomes*, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO - Mineiro de Passos, hoje morando em Brasília, Alexandre Brandão integra a mais recente geração de escritores brasileiros. Depois de participar das oficinas literárias de Flávio Moreira da Costa, ele lança, pela carioca Cais Pharoux, A câmera e a pena. O livro reúne duas novelas abordando, como sugere o título, os temas do cinema e da literatura.

'Um pouco mais que um diretor' narra o dia a dia de uma produção cinematográfica e faz da câmera o ponto de contato entre a realidade e a ficção. O leitor, como co-diretor, vai manipular essa câmera, aproximá-la das personagens, criar planos fechados ou abertos e fazer enquadramentos inusitados, o que acaba sendo uma nova forma de ler ficção.

Produzir um filme é armazenar a vida em celulóide. Alexandre Brandão aproveita a oportunidade para discutir, nas entrelinhas, a situação da produção cinematográfica no Brasil como é filmar sem recursos mirabolantes ou atores famosos. É tudo uma questão, como acentua ele, de 'dosar emoção e técnica'. O escritor Marco Túlio Costa observa que a vida, nesta novela, termina por ser o infinito set da simultaneidade.

'Em torno de uma xícara de café', a segunda novela, fala de uma nova geração descobrindo os segredos da criação ficcional e aprendendo com os seus próprios erros em uma oficina literária. Os cinco autores do grupo já publicaram livros (com sucesso pífio) e estão escrevendo outros. Sempre juntos, vingam-se do quase anonimato malhando resenhistas, novos e velhos escritores, revistas literárias, críticos e a literatura na internet.

Blogs e twitters

Esta, aliás, marca a diferença entre a nova geração literária e a de seus antecessores. Até os anos 70, grupos de escritores jovens se reuniam invariavelmente em redações de suplementos literários, geralmente sob a orientação de um escritor mais experiente. Naquela fase pré-computador, os textos nasciam de velhas máquinas de escrever. Por sua vez, a geração literária abordada por Alexandre Brandão é deste princípio de século, não tem gurus literários, escreve em computadores e nasceu sob o signo da internet.

Seus textos fluem em blogs e twitters. Os autores se jogam por inteiro nessas duas recentes conquistas da web e se identificam sem reservas nas páginas pessoais, onde divulgam suas opiniões, e com a rede social dos twitters. É o admirável mundo novo da tecnologia a serviço do também novo mundo da criação.

Comentando a novela, o escritor Alexandre Marino entende que a literatura, nestes tempos banais de informação por satélites de comunicação, é um escudo pacificador. O poeta Antônio Barreto vai mais longe e sugere que o livro, com suas abordagens novas, merece uma tese de mestrado/doutorado no campo das letras.

* Jornalista e escritor.