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Livro conta como Luiz Severiano Ribeiro construiu seu império

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Duílio Gomes, jornalista e escritor, JB Online

RIO - Luiz Severiano Ribeiro, mais do que um empreendedor, é uma lenda no cinema brasileiro, tendo sido fundador de uma dinastia que administra há décadas uma cadeia de duas centenas de salas de cinema no país.

Sua história e a de seus descendentes Luiz Severiano Ribeiro Júnior e Luiz Severiano Ribeiro Neto vem contada no livro O rei do cinema (Record. 206 páginas, R$ 40), de Toninho Vaz. Recheado de fotos e trazendo na epígrafe um trecho da letra de Cinema Brasil, de Joyce, o volume revela o perfil de um homem que amava o cinema (nacional) acima de tudo.

Sofisticação

Um sonhador que conseguiu concretizar seus sonhos culturais, Luiz Severiano Ribeiro montou seu império primeiramente no Nordeste, descendo depois para o Rio de Janeiro. A Cinelândia ficou sendo o seu ponto estratégico de trabalho. Empresário sofisticado, os cinemas fundados por ele traziam um pouco dessa sofisticação em grandes espaços decorados, do hall de entrada à sala de exibição. Por isso mesmo, Severiano Ribeiro foi, ao lado de Francisco Serrador, o primeiro tycoon nacional do gênero no país. O autor revela uma pesquisa empreendida por Vinícius Chiappeta Braga: foram exibidos 1.477 filmes no Brasil, em 1924 (sendo 1.268 de produções norte-americanas) enquanto em 1933 já existiam no país 1.683 salas de exibição. Ali estava, com certeza, o dedo do tycoon.

Amigo do alto executivo cubano Enrique Baez, ligado à United Artists, Luiz Severiano Ribeiro foi um dos primeiros a mostrar aos brasileiros os filmes de artistas ligados àquela produtora, ou seja, ninguém menos que Charlie Chaplin, Griffith, Mary Pickford e Douglas Fairbanks. O Grupo Severiano Ribeiro estava também ligado a outras produtoras-distribuidoras de peso, como RKO, Metro e Warner Brothers.

As salas de exibição com a grife do grupo se multiplicavam no Rio de Janeiro e em outras cidades , conforme atesta o autor do livro, acrescentando: Estava criado o slogan que seria a marca registrada do grupo até hoje: 'Cinema é a maior diversão' .

Quando co-fundou a produtora Atlântida Cinematográfica, Severiano Ribeiro estava também iniciando um império onde a tônica principal seria a brasilidade em produções que levaram milhões de pessoas aos cinemas nas décadas de 40, 50 e 60. Toninho Vaz chama isso de fenômeno popular . Pipocavam nas telas atores de apelo popularíssimo como Oscarito, Grande Otelo, Anselmo Duarte, José Lewgoy, Zezé Macedo, Zé Trindade, Dercy Gonçalves, Fada Santoro, Ankito, Adelaide Chiozzo, Sonia Mamede, Eliana Macedo, Neide Aparecida e Cyll Farney, este, irmão do pianista pré-bossa nova Dick Farney, que algumas vezes chegou a tocar nessas produções.

As chanchadas

Os diretores Carlos Manga (que assina a orelha do livro), José Carlos Burle, Watson Macedo e J.B. Tanko também se destacaram por grandes êxitos da Atlântida. Alguns desses filmes, produzidos de 1942 a 1974, arrastaram multidões aos cinemas. Eram as chamadas chanchadas, às quais a crítica 'séria' torcia o nariz É com esse que eu vou, Aviso aos navegantes, Amei um bicheiro, Carnaval Atlântida, Nem Sansão nem Dalila, Matar ou correr, O homem do Sputnik, este o primeiro filme em que Norma Bengell e Jô Soares atuaram.

Os palácios cinematográficos , escreve o pesquisador Vinícius Chiappeta Braga no posfácio, que fisicamente foram erguidos, enriquecendo a arquitetura das cidades, as avant-premières, o furor social em torno da sétima arte, provocado pelo impacto de todos os esforços, foram o afago dos Severiano Ribeiro ao orgulho dos brasileiros .