Fernanda Pereira Carneiro, Jornal do Brasil
RIO - O misterioso e enigmático olhar de ressaca de Capitu, personagem do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, ganhou uma nova estética. Parte do projeto Quadrante, do diretor Luiz Fernando Carvalho, a série, que leva o nome da protagonista, vai ao ar a partir do dia 9, na Rede Globo, após o Casseta&Planeta. Para Carvalho, a produção faz parte da sua necessidade de refletir o país.
Me agarrei na literatura para atravessar o Brasil comenta o diretor.
Os autores, com suas contradições e pontos em comum, conseguem dar uma visão geral do país. Capitu, em especial, é uma sensível reflexão sobre as inúmeras facetas da alma humana.
Centrado no teórico triângulo amoroso entre Bento (César Cardadeiro/Michel Melamed), Capitu (Letícia Persiles/Maria Fernanda Cândido) e Escobar (Pierre Baitelli), a trama se passa em duas fases.
A primeira mostra o amor vivido pelos dois adolescentes e a segunda retrata a imaginação corroída pelo ciúme de Bentinho em relação à mulher Capitu e ao amigo Escobar.
Um desafio foi fazer o Dom Casmurro diz Melamed.
Como deixar o telespectador na dúvida, como fez Machado em seu romance? Mas conseguimos mostrar a alma da obra.
Carvalho espera ter ido além da polêmica criada pelo escritor e, através da série, tenta desmistificar os conceitos construídos nas escolas.
Há um grande preconceito com a obra de Machado atesta.
Os jovens o consideram obtuso. Eu quis mostrar como ele é atual, um autor que ainda está vivo.
O lugar escolhido para as filmagens foi o antigo Automóvel Club do Brasil, um palácio abandonado no Centro do Rio. Ao longo de três meses, o elenco e a equipe de criação tiveram um treinamento com profissionais de psicanálise, história e comunicação.
Transpor o olhar da Capitu foi conseqüência do trabalho corporal comenta Letícia.
Recuperei muitas sensações da minha infância. Fiz uma caixa com o que encontrei coloquei lá.