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Sem referências, não há criação diz nova geração de escritores

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JB Online

RIO - Muitos não se conheciam pessoalmente até esta Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que terminou no domingo. Mas, em poucos minutos, já trocavam figurinhas, entrosados. Convidados pela Casa Jornal do Brasil para um debate no balneário, os escritores (que rejeitam a pecha de novos ) Manoela Sawitzki, Tatiana Levy, Tony Monti, Flávio Izhaki, Leandro Jardim, Abílio Marcondes, Pedro Vieira e Carola Saavedra mal sabem o tanto que têm em comum, além de terem acabado de atravessar a barreira da publicação dos primeiros livros: os oito autores são o melhor exemplo do diálogo com outras artes.

Numa festa onde reinaram nomes do teatro, cinema e quadrinhos como o dramaturgo Tom Stoppard e o roteirista Richard Price o trabalho dos rapazes e moças mostra que, sem beber num caldeirão de referências multiculturais, a fonte seca.

Não teria escrito muitos dos meus textos se o cinema não fosse tão presente em meu cotidiano resume Carola, 30 anos, autora do romance Toda terça (Companhia das Letras). Sua influência é muito grande sobre tudo o que eu penso.

Também foi influenciado pelo imaginário do cinema que Abílio Marcondes, de 25 anos, definiu o estilo dos contos reunidos em Hiato (7letras). As histórias embaralham diferentes temporalidades, e os mesmos personagens habitam diversos contos o que só se descobre através de pistas. Como nos filmes.

No caso de Tatiana Salem Levy, de 29 anos, que assina A chave de casa (Record e Cotovia), a articulação com o cinema é ainda mais definida. Ela está fazendo o roteiro de um longa-metragem de ficção com a cineasta Lúcia Murat, enquanto pensa num novo livro.

Apesar de onipresente, o cinema não é a única pedra de toque off-literária da turma. Também estão lá os quadrinhos, o RPG, a música, o teatro. No livro de estréia, Pedro Vieira, de 28 anos, escolheu contar uma história que mostra o espírito da coisa:

Nerdquest, que eu lancei há pouco pela 7letras, trata de um grupo de nerds recém-formados que se reúnem para falar da vida e jogar RPG explica. Mas o estilo do texto também tem influências dos quadrinhos.

A gaúcha Manoela Sawitzki, 30 anos, que até o ano que vem publica o romance Suíte Dama da Noite, pela Record, começou sua trajetória com o teatro e o cinema. Um de seus roteiros de longa-metragem, Rita, ganhou o Prêmio Santander Cultural para Cinema e está em fase de captação para produção.

Vamos fazer a história em técnica mista, com recursos de animação. É o primeiro roteiro de longa que escrevo. Na verdade, escrevi muito mais para teatro explica Manoela, que desenvolve a programação artística do Theatro São Pedro, em Porto Alegre, sua cidade natal. Sei que meu original foi lido, pelo menos. E a gente sabe que nem sempre é assim. Muitos originais são empilhados nas editoras, e a chance de uma revelação se perde.

A mesma sorte teve Leandro Jardim, carioca, 29 anos. Jornalista e músico, começou a compor aos 18 anos. Da música foi para a poesia, e acaba de publicar seu primeiro livro, um romance misturado com poesia Todas as vozas cantam, pela 7letras.

Comecei fazendo meus próprios minilivros, que eu chamo de semi-artesanais e semi-independentes. Mas não queria ficar restrito a esta condição de independente. Então mandei algumas poesias para a Heloísa Buarque de Hollanda e para a editora 7letras. Esperei dois meses e me mandaram um email, com interesse em publicar conta.

Diante da pedreira da publicação do primeiro livro, o carioca Flávio Izhaki não se fez de rogado. Lançou mão de um recurso dos mais contemporâneos: pôs uma espécie de trailler de seu romance De cabeça-baixa no You Tube, para ajudar na divulgação. Foi um sucesso.

Essa tal Geração 00 foge do rótulo como o diabo foge da cruz. Entre a Tenda dos Autores e as mil e uma atividades da Flip, eles preferiram a rua. Flanavam pelo calçamento de pé-de-moleque buscando encontros , diálogos , surpresas . O agradável ambiente do festival é mais do que os debates, para eles. Tony Monti, de 29 anos, autor de O mentiroso (7letras) e O menino da rosa (Hedra), é um veterano em Paraty: é a quarta vez que visita a Flip. Mas deixa claro que não quis nem se aproximar da Tenda dos Autores:

Vim passear, bater-papo, conhecer pessoas.

Izhaki arremata:

Eu me interesso pela discussão das mesas, mas preferia que elas tivessem mais debate, e não apenas monólogos. Por isso, aprecio mais o ambiente, a experiência de estar nesta cidade.