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Parceiro de Cazuza lembra criação de 'Faz parte do meu show'

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Leandro Souto Maior, JB Online

RIO - Um dos maiores clássicos que o roqueiro Cazuza deixou para a música brasileira é a bossa nova Faz parte do meu show. Na verdade, a parceria com o músico Renato Ladeira já havia sido gravada um ano antes da versão com o Cazuza, do disco Ideologia, de 1988. O grupo de rock Herva Doce, que Ladeira integrava, lançou sua versão, uma balada pop bem diferente da que ficou conhecida. Hoje, no dia em que se completam 18 anos da morte do poeta do rock e 20 anos do lançamento de Ideologia, Reanato Ladeira lembrou com exclusividade para o JB Online a história de Faz parte do meu show.

- Minha ex-mulher começou a trabalhar com o Cazuza e me sugeriu fazer uma música com ele, já que ele começava a carreira solo e não estava mais traballhando exclusivamente com o Frejat. Daí surgiu Desastre mental, que ele gravou em seu primeiro disco solo. O Herva Doce também gravou a música, em nosso último LP - recorda Ladeira.

- Eu fiz uma balada e mandei para ele. Passou um tempo, eu estava em um bar no Leblon onde íam todos os doidos na época, de repente o Cazuza aparece gritando 'faz parte do meu show!' na minha direção. Ele disse: 'vamos lá em casa para você ver a nossa música'. Saimos do bar, já eram umas 5 da manhã, subimos até o Alto Leblon e ele me mostrou a letra, apagando no sofá em seguida.

Já Renato Ladeira, apesar de cansado pela hora avançada, estava lúcido o suficiente para notar que Cazuza modificou uma parte da canção original que ele lhe enviara.

- Ele não fez o refrão como eu tinha feito e não colocou letra na música inteira. Dois dias depois eu peguei a 'meia letra' e falei pro Cazuza: 'você não fez aquela modulação no meio da música'. Ele argumentou que o tom ficou muito alto para sua voz - conta.

Com o consentimento de Cazuza, Ladeira incluiu mais uma parte na letra e gravou a música com o Herva Doce do jeito que concebera. Um ano depois, Cazuza ligou para ele chamando-o para ouvir Faz parte do meu show que ele acabara de gravar no estúdio da Polygram. Quando ouviu a versão em formato de bossa nova (vale lembrar que, coincidentemente ou não, em 1988 estavam se completando 30 anos do movimento musical capitaneado por João Gilberto e Tom Jobim), Ladeira disse:

- Cara, você fez outra música! Ele disse: 'eu vivo mutante, vivo mudando as coisas'. Virou um clássico!

Depois da morte de Cazuza, Renato Ladeira ainda teve a oportunidade de mais uma parceria com ele.

- Eu trabalhava como produtor musical na Globo e me foi encomendado fazer uma música em cima de uma letra inédita que sua mãe tinha liberado. Fiz a música Amor quente, que entrou em trilha sonora de novela na voz da cantora Lela Badaró. Depois o Humberto Gessinger pleiteou que tinha feito a mesma música uns anos antes. Acabou que a canção ganhou o crédito dos três - relembra.