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Crítico acusa Grande Prêmio de Cinema de subserviência a patrocinador

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Carlos Helí de Almeida, JB Online

RIO - Em 2007, no discurso de entrega do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro da temporada 2005/2006, o presidente da Academia Brasileira de Cinema, o cineasta Roberto Farias, declarou, com orgulho, que a premiação não precisaria mais agregar patrocinadores ao nome do prêmio - a versão anterior do troféu chamava-se Grande Prêmio TAM.

Conforme notou o jornalista e crítico de cinema Celso Sabadin, a alegria não durou uma nova edição. Semana passada, a entidade reuniu a imprensa para comunicar as datas da cerimônia de 2008 e avisar que a partir de agora o prêmio fora rebatizado de Grande Prêmio Vivo do Cinema Brasileiro, acrescentando a razão social do novo patrocinador.

Sabadin questiona a facilidade com que o setor cinematográfico, em geral, e a Academia, em particular, se curvam às exigências comerciais de seus mecenas.

- A chamada 'Academia', responsável pela premiação, passa um atestado de vassalagem ao patrocinador que a nossa história cinematográfica não merecia - disse o crítico.

O veterano presidente da entidade faz mea culpa e admite que a produção cultural brasileira, em especial o mercado cinematográfico, é vítima de uma deformação do mercado.

- Nós, da Academia, resolvemos um pouco esse problema dando um nome ao troféu, que a partir deste ano se chama Grande Otelo. Estamos num país capitalista. Para sobreviver, o cinema ainda precisa das leis de incentivo do governo e dos recursos das estatais. Enquanto o mercado brasileiro não for grande, com alguma participação mais forte nas bilheterias, não há como a atividade existir sem a ajuda de patrocinadores privados, ainda mais enfrentando a competição do cinema estrangeiro - explica Farias, 75 anos, autor de títulos como "Pra frente Brasil!" (1982).

Criada em 2002 com o objetivo de preservar e promover o cinema nacional, a Academia Brasileira de Cinema se aproxima de sociedades cinematográficas como a americana, que distribuiu o Oscar, e a espanhola, que instituiu o prêmio Goya, a maior honraria do cinema daquele país. Tal como lá fora, o quadro de votantes é formado por cerca de 300 sócios, entre realizadores, distribuidores, produtores, exibidores, técnicos, atores e críticos de cinema e outros profissionais da área. A cerimônia da edição 2008 do Grande Prêmio está marcada para 15 de abril.

- A Academia Brasileira de Cinema vive da contribuição dos associados - explica Farias.

- Sem essa colaboração, ainda não dá para ela ser uma entidade independente. Gostaria que alguém pudesse nos ajudar a conquistar essa independência financeira absoluta.

Sabadin explica que só no Brasil a designação do maior prêmio da categoria "depende de quem vai patrociná-lo".

- Já que o troféu a ser entregue, a partir deste ano, passará a se chamar Grande Otelo, por que não batizar a premiação com o mesmo nome? - argumenta o jornalista.

- Seria uma homenagem muito mais justa e honrada a uma das maiores personalidades do nosso cinema, do que simplesmente atrelar o nome da premiação a um patrocinador que, todos sabemos, poderá ou não assinar novamente contrato no ano que vem, e no próximo, e no próximo... - argumenta.

- A associação com a Vivo não é espúria. A telefônica tem mostrado participação muito grande e bastante efetiva na área da comunicação e de conteúdo - defende Farias.

- Acho a parceria entre a Academia e a Vivo justa, porque há uma troca entre os dois parceiros. Enquanto eles, os patrocinadores, ajudam a realizar nossos prêmios, a Academia, por sua vez, ajuda a repercutir o nome da companhia. É uma combinação de forças que abre espaço comercial para os filmes brasileiros, inclusive nos celulares e na televisão. É mais uma maneira de divulgar o cinema brasileiro.

Em nota oficial enviada ao JB, a Vivo esquiva-se de responder às questões postas por Sabadin. No texto, a empresa lembra que "tem um histórico marcante de apoio às artes desde a sua criação, em 2003", cita várias produções que contaram com sua ajuda financeira e arremata: "A Vivo investe tanto no fomento quanto na valorização do cinema nacional. É por isso que a companhia concentra seus investimentos nessa área em produções de qualidade e grandes festivais, como o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro".