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França: Estado arrecada vendendo imóveis históricos

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ANSA

PARIS - Foi o quartel-general de Hitler em Paris durante a Segunda Guerra Mundial e onde em 27 de janeiro de 1973 foram assinados os acordos de paz do Vietnã.

O Hotel Majestic, atual Centro de Conferências Internacionais Kleber, no "XVI arrondissement", perto do Arco do Triunfo, é uma das dezenas de propriedades históricas do Estado na região parisiense colocadas à venda pelo governo francês para reduzir a dívida do país.

O governo gasta de US$ 2 bilhões a US$ 4 bilhões por ano para manter castelos, vilas e "hotel particuliers", imóveis históricos de todas as épocas, da Idade Média ao Renascimento, do Iluminismo à Belle Epoque.

De um estudo do governo de 2006 verifica-se que o valor das propriedades estatais supera os US$ 48 bilhões (excluídos obviamente os prédios que não têm preço, como Notre Dame), dos quais US$ 19 bilhões são usados por escritórios do governo.

Por enquanto, deste patrimônio imobiliário imenso foram vendidos mais de US$ 1,6 bilhões, US$ 800 milhões só no ano passado.

- Queremos continuar ao ritmo de no mínimo US$ 500 milhões anuais - disse ao International Herald Tribune o dirigente do Ministério das Finanças, Daniel Dubosts, para quem 15% desta renda ajudará o país a fazer frente à dívida nacional, derrubando o déficit abaixo do parâmetro europeu de 3%.

Nem todos concordam com estas vendas. Este é o caso, por exemplo, do instituto francês de pesquisas Montaigne, que as considera "um capricho do mercado, sem uma visão de meio-longo prazo da gestão deste patrimônio".

- São jóias de família e uma vez vendidas, estarão perdidas para sempre - comentou Jean-Louis Dumont, representante do Partido Socialista.

Até agora o Estado vendeu 10 "hotel particuliers" parisienses dos séculos XVIII e XIX pertencentes à aristocracia francesa. Só alguns prédios foram vendidos a particulares. O milionário francês Vincent Bolloré pagou 10 milhões de euros por uma casa com vista de frente para o Bois de Boulogne. Algumas vilas da Costa Azul foram vendidas para milionários russos.

Porém, os maiores compradores são fundos de investimentos e pensões estrangeiros. O Grupo Carlyle desembolsou 165 milhões de euros por um grande prédio na rue du Bac. Westbrook Partners comprou um edifício Art Deco perto da igreja da Madeleine, no coração de Paris, para ocupar com escritórios.

Muitos investidores efetuam a compra sem ter a menor idéia do que farão com o bem "mas com isso o governo não precisa se preocupar", afirmaram fontes do Ministério francês de Finanças.

- Eles não têm o direito de destruí-lo, pintá-lo de vermelho ou construir uma torre no jardim; mas certamente poderiam usá-lo como bordel, se a lei permitir - disse um funcionário do ministério.