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A proteção ao mercado e o crime expresso pela cor

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O Brasil, a cada dia que passa, evidencia ainda mais o seu grave e crônico racismo institucional. Os episódios envolvendo crimes políticos e crimes do colarinho branco vem servindo para dar à massa da população uma óbvia e triste mostra disso. 

No Brasil real, o que se vê é uma crescente onda de justiçamento e clamor por cada vez mais e maior punição. O caso do jovem torturado e tatuado na testa, sem que de fato houvesse efetuado o furto de uma bicicleta, nos faz pensar se o que se execra é o crime ou a pobreza.

O superencarceramento retrata a distorção de uma sociedade e um judiciário que reflete o que há de mais conservador e insensível ao diferente.

Não há nenhuma identificação com a população do Brasil real e isso está muito patente na cor dos e das encarcerados e encarceradas. Reflete-se também na ausência de qualquer tipo de dignidade nos cárceres, pra não falar de presos e presas que nunca foram julgados, de famílias que ficam à míngua e crianças negras e pobres encarceradas com suas mães presas. 

Se a dinâmica de proteção ao mercado  financeiro, que não é uma entidade etérea mas um conjunto de pessoas que tomaram decisões que ajudaram a produzir o que estamos vivendo, por parte da força-tarefa da Operação Lava Jato se constituir como fato numa possível delação do ex-ministro Antonio Palocci, teremos ainda mais elementos para afirmar que no Brasil o crime está expresso não na prática do delito, mas na cor da pele e local de moradia. 

* Colunista, Consultora na ONG Asplande e Membro da Rede de Instituições do Borel