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Os atos que desnudam a face sombria da sociedade

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A tarefa de escrever nestes dias não anda nada fácil. Não por falta de assuntos, mas pela enorme quantidade deles. De certa forma isso é muito bom e muito angustiante também, pois a escolha sempre faz a gente deixar de lado algum assunto empolgante e importante. Mas vamos lá, porque não é para falar, ou melhor, escrever sobre dilemas de articulista que estou aqui.

As redes sociais não param de destacar a violência crescente nas favelas do Rio de Janeiro, que parecem ter entrado no clima de retrocesso que tomou conta do país e ressuscitou  figuras e situações que pensávamos já superadas na história de nossa sociedade (menos essa guerra particular que continua produzindo caos e morte de uma população inocente). Vivemos um clima cada vez menos favorável e tranquilo nestas áreas.

Ao percorrer o bairro da Tijuca, chama a atenção a abundância de placas de venda de imóveis. O som de tiros começa a tornar-se frequente. A atual situação do estado do Rio de Janeiro e consequentemente seu reflexo nas instituições e setores delicados, como a saúde, educação e segurança, vão deixar marcas terríveis, principalmente no que se refere a esse tema.

A produção de mortes violentas de grupos humanos determinados, em uma escala irresponsável (50 mil mortes de jovens negros pobres ao ano, o aumento na morte de mulheres negras anualmente, cerca de 54% segundo a ONU) parece não gerar nenhum tipo de constrangimento.

É recorrente minha indicação, vocês já leram aqui muitas vezes, de que caminhamos para um rumo desastroso se não revermos imediatamente essa questão, essa forma de gerir a cidade, principalmente para os mais pobres, a classe trabalhadora, os mais vulneráveis e invisibilizados diariamente em sua dor.

Me utilizo da reflexão da Cientista Social e Professora do Departamento de Antropologia e do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP, Márcia Regina da Costa, que afirma em sua análise sobre a violência que ódio ao outro, a negação do outro, o prazer em destruir o semelhante, presentes em muitas das violências contemporâneas, podem não ser ideológicas apenas em um sentido restrito ao termo. 

Esses atos desnudam a face sombria presente nessas sociedades em que a solidariedade e a identificação com o outro ser humano estão em constante perigo.

Precisamos todos nos mobilizarmos em uma tentativa de mudança real desse quadro, do contrário, em maior ou menor medida, sofreremos todos.

* Mônica Santos Francisco - Consultora na ONG ASPLANDE, Colunista no Jornal do Brasil. Coordenadora do Grupo Arteiras