ASSINE
search button

Da necessidade do favelado provar que é trabalhador

Compartilhar

Quem já leu ou assistiu a alguma notícia sobre o assassinato de algum morador de favela pode não ter reparado, mas a primeira questão para a família é ter que provar que a vítima era trabalhador. São mães e mulheres com carteiras de trabalho na mão ou comprovantes para livrarem pelo menos a honra de seus mortos morrerem sem serem acusados injustamente. Muitas vezes, a profissão substitui o nome, tudo com objetivo de provar a inocência para os olhares preconceituosos. 

Uma triste realidade, mas que na favela é necessária já que sempre que um favelado é morto, a primeira coisa que fazem é acusar com frases: “Ah, era mais um bandido” ou “se morreu é porque fez por merecer”. Tudo isso revela o pensamento cruel de violência da sociedade de que se for criminoso, então pode ser assassinado.  

Vivos, também temos que provar que trabalhamos. Nas abordagens policiais nas favelas, quando estes muitas vezes já acham que estamos com algo errado, somos interrogados: "Trabalha de quê? Cadê o documento?" 

E assim temos que diariamente provar que não somos marginais, provando por meio de documentos e depoimentos nossa inocência. Ou seja, o pobre não tem nem o direito de não fazer nada, pois tem que provar alguma ocupação para não ser acusado.

Se o Rio de Janeiro é a cidade maravilhosa ou se é olímpica, eu não sei. O fato é que segundo a Anistia Internacional, só esse ano 11 pessoas foram mortas pela polícia na cidade e 307 mortes foram causadas por policiais em serviço no ano 2015. Enquanto os números aumentam, famílias são destruídas e vidas são tiradas. Uma guerra sem fim, onde o pobre paga com a vida por uma única culpa: nascer pobre em um país de tamanha desigualdade.

* Davison Coutinho, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestrando em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade.