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Cotas raciais são um avanço, e não um retrocesso

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O assunto das cotas volta a ser polêmica na sociedade brasileira após jornalista da Rede Globo do DF, Alexandre Garcia, afirmar que os cotistas que entraram na Universidade de Brasília (UnB) não possuem méritos e estão lá por "pistolão". As frágeis argumentações não convencem porque os dados mostram que os cotistas vêm tendo desempenho melhor do que os não cotistas em diversas universidades do país, contrariando a narrativa apresentada pelo jornalista. 

Não podemos esquecer que o debate da meritocracia medíocre e hipócrita é uma camuflagem da discriminação racial em argumentos legalistas, revelando diversos preceitos étnico-raciais e sociais.

Com a legalidade das políticas de ações afirmativas, reconhecemos que a dívida histórica do estado brasileiro com o povo negro precisa ser paga. O racismo, ainda presente no país, coloca em xeque a autonomia e empoderamento do povo negro. No momento da política de encarceramento, do genocídio da juventude negra por parte do estado, da ausência de garantias do direito a moradia e a terra, da ocupação dos postos mais precarizados de trabalho, vemos quais são os apontamentos que nos auxilia a identificar o racismo institucional brasileiro.

Apesar de argumentações das pessoas contrárias às cotas, vemos que o objeto da crítica meritocrática interfere diretamente na retomada dos direitos dos negros e negras e na perda de privilégios da classe hegemonicamente econômica.

Agora não se trata mais das cotas nas universidades, mas das cotas em concursos públicos e a garantida da presença do corpo negro em todos os espaços de participação social. Segundo dados oficiais, do IBGE, mais de 50% da população brasileira é negra, porém, é sub-representada em menos de 30% entre os servidores públicos, ocupamos apenas 26% das vagas nas universidades e estamos ainda com a faixa salarial 50% menor do que a população não negra com os mesmos cargos no mercado do trabalho.

Para nós esse debate é muito importante pois, a partir dele, garantimos um maior empoderamento da população negra e veremos mais negros e negras ocupando espaços que são nossos por direito.

O jornalista citado acima de fato deve se preocupar. O avanço das políticas de ações afirmativas de fato vem mudando a cara das universidades brasileiras. Hoje, pintando o ensino superior com a cara do povo negro e indígena, vamos mostrando que muitos privilegiados vãos ter que engolir a seco nossos corpos, culturas e identidades ocupando todos os espaços. 

* Walmyr Júnior é morador de Marcílio Dias, no conjunto de favelas da Maré, é professor e representante do Coletivo Enegrecer como Conselheiro Nacional de Juventude (Conjuve). Integra a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.