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A ação, a reação e o risco do caos 

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A terceira Lei criada pelo cientista inglês Isaac Newton, seguindo as teorias do matemático italiano Galileo Galilei, e por isso mesmo denominada Lei Newton-Galileo, nos ensina que a toda ação decorre uma reação.

Mas, o mais interessante é observar como os cientistas, ou melhor como Newton, vai nos ensinar a observar que o comportamento mecânico de uma partícula sobre a qual estiver agindo alguma força, ficará resolvido, se as forças que atuam sobre esta mesma partícula forem conhecidas.

Muito bem, saindo das aulas de física e mecânica, olhemos para o comportamento da nossa sociedade, e com um pouco mais de proximidade a nossa sociedade carioca, ou pelo menos parte dela, que vem se comportando ao longo dos anos em relação às favelas, ao subúrbio, ou em relação às periferias, como vem se convencionando chamar os espaços habitados pela classe trabalhadora, pelos mais pobres e vulneráveis, de uma maneira extremamente preconceituosa.

Esse sentimento perpassa os anos e já está sedimentado na burguesia carioca. A cidade que recebeu o maior número de escravos e que tinha um contingente considerável no pós-abolição, não se curou de seu mal, o racismo, aliado ao preconceito social, muito mais estimulado pela característica geográfica do Rio de Janeiro, onde a proximidade entre as classes é muito maior.

Uma sucessão de horrores nesta semana em que damos adeus ao inverno e buscamos renovara as esperanças com a primavera que se aproxima, ao menos nos permitir tentar buscá-la.

Não é a causa, ou a ação que incide sobre a partícula, como nos ensinou Newton, ou sobre estas pessoas, cuja a liberdade se quer cercear de maneira arbitrária. Não é a causa que se quer descobrir, até porque, de alguma maneira,sabemos há muito tempo qual é a força ou as forças, ou causas que incidem sobre a parcela da população que se quer segregar.

Não queremos discutir a falência das práticas que vem destruindo a educação pública e gratuita, a formação de professores, o sucateamento das universidades, os processos solidificados de manutenção de uma população fora das oportunidades de ascensão, promovendo uma maior diversidade em todos os setores da vida em sociedade.

Não se deseja resolver o problema. A sociedade do espetáculo, dos horrores, da dissimulação que ajuda a encobrir o ódio racial e social, disfarçado de "desejo" de paz ou de justiça, deseja a punição e o suplício, nada mais.

Seus pares, a quem as penas do poder estão sujeitas, materializam essa dissimulação ao criar normas, leis ou até em aviltá-las ao sabor da opinião de público seleto. 

Não esqueçamos amigos e amigas, que toda ação, tem uma reação. Não podemos permitir que caminhemos em uma estrada sem volta para o caos e a perda da dignidade, já tão arranhada. 

Pois bem, para que possamos lutar de maneira clara e igual por direitos, como deve ser, sem dissimulações ou simulacros de sentimentos e desejos nobres como paz, justiça e afins, para no fundo promover ações violentas contra o diferente, instituamos o Apartheid, declaremos em alto e bom tom que não toleramos pessoas distintas (com todas as letras) em determinados lugares, fora dos padrões que os que se pensam brancos, das camadas médias e altas, entendemos como "apropriados" (servindo).

Aí o jogo fica claro e as regras estabelecidas de maneira honesta. Sem isso, caminhamos para um processo ainda mais violento de acirramento de estigmas e fortalecimento de um estado completamente policial. O futuro há de nos condenar de maneira impiedosa, mas certamente não haverá condenação maior do que nos perdermos em nossa própria loucura.

Prefiro continuar  afirmando e fazendo minhas as palavras do filósofo espanhol José Ortega, "Civilização é, antes de mais nada, vontade de convivência".

"A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não aos Autos de Resistência, à GENTRIFICAÇÃO, à REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL , ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO, ao MACHISMO, À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER e à REMOÇÃO!"

*Membro da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.(Twitter/@ MncaSFrancisco)