Como morador da Rocinha e educador, posso afirmar que não foi apenas o adolescente de 16 anos que supostamente assassinou o ciclista. Se ele foi realmente o culpado, teve apoio de vários cúmplices. Os cúmplices que sempre estiveram em nossa sociedade, mas nunca sofrem nenhum tipo de punição.
Junto com aquela mão que segurava a faca e esfaqueava a vitima na Lagoa de Freitas, existiam varias mãos cúmplices daquele homicídio que seguravam aquela arma. Hoje, o acusado é, também, vítima da miséria, da pobreza, da desigualdade social, do preconceito e da corrupção.
Hoje, este suspeito tem 16 anos recebe o nome de X. Sem família, sem escola, abandonado, vivendo às margens da pobreza. Ninguém nasce nem sonha querendo ser X., ladrão, assassino, ou bandido. Tudo isso é reflexo da desigualdade social que impera em nossa sociedade.
Ora, essa semana mesmo um jovem de poder aquisitivo incomparável com a realidade do adolescente X. foi absolvido em processo por atropelamento e morte de ciclista. Se a justiça esta fracassada para quem tem mais de 18 anos, como quer tratar dos menores?
Toda essa violência já está instaurada há décadas nas periferias da nossa cidade, mas só agora que começa atingir o lugar da elite é que ganha repercussão. Não adianta tratar o problema, tem que tratar a causa do problema, reverter esse quadro social. O que vivemos é resultado da falta de investimento adequado em educação, programas de esporte, cultura e lazer.
Nada justifica tirar a vida de um ser humano, tenho toda solidariedade à família do médico Jaime Gold. Infelizmente, um inocente pagou por uma tragédia que se originou desde que esse jovem foi abandonado pelo sistema.
Redução não é a solução!
* Davison Coutinho, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestrando em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade.