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Tiroteio na favela da Maré, e panela batendo na Zona Sul

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Segundo as informações da pagina “Maré Vive”da rede social Facebook, ocorreu uma operação do Bope na noite de terça-feira (5)  na favela do Pinheiro no Complexo da Maré. As informações postadas pelos seguidores da página, que são moradores da favela, retrata o clima de medo e insegurança com as sequentes trocas de tiros na favela devido à presença militar. 

Enquanto os moradores da favela estão preocupados em ter a garantia da sua vida, que está ameaçada pela política de segurança pública do Estado do Rio de janeiro, os moradores do outro lado da cidade se viam em uma tremenda ameaça, a ameaça da perda dos seus privilégios.  Os tiros que ecoam na favela não são noticiados como os barulhos que surgem das panelas da inconformada classe média da zona sul. 

Dos seus luxuosos apartamentos Elles, de forma maestral, faziam ressoar o sonoro tom de suas panelas. Elles, inconformados por ter seus filhos em colégios privados, por andar em carros de luxo, Elles que querem o dólar barato para comprar seus imóveis na Europa, e vão continuar tendo as oportunidades de ter bons cargos de diretores em empresas públicas, e batucam nas panelas porque estão inconformados por perder privilégios com as investigações da polícia federal.

São Elles, os manifestantes que querem o fim das cotas, querem a redução da maioridade penal, querem a terceirização, querem a privatização dos presídios, querem a volta dos militares no poder. Querem isso e muito mais. Os coitados estão chateados porque tem empregadas com tablet, celular moderno. Estão incomodados por verem o filho do servente na mesma turma de faculdade dos seus filhos, tristes também porque o aeroporto virou rodoviária.

A manifestação da favela surge pela ausência de serviços básicos. Faltam escolas com ensino integrado à cultura e ao lazer, falta saneamento básico, falta hospitais com amplo atendimento. Ao contrário das políticas públicas que iriam garantir direitos para a favela, o Estado investe em policiamento e militariza o território ‘pacificado’, inibe a cultura local e criminaliza a pobreza. 

Se você bateu sua panelinha para protestar contra o governo por você perder seus privilégios, não fique triste. Bater panela da janela do seu prédio não compromete a sua segurança. A polícia está atenta matando, prendendo e punindo os favelados que não têm a cultura do protesto televisivo midiático dos batuques das panelas. 

*Walmyr Júnior é professor. Representante do Coletivo Enegrecer como Conselheiro Nacional de Juventude - CONJUVE. Integra Pastoral da Juventude e a Pastoral Universitária da PUC-Rio. Representou a sociedade civil no encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.