ASSINE
search button

Espero que o Brasil oficial não interdite o caminho aberto para o Brasil real

Compartilhar

Escrevi aqui há um tempo atrás, por conta da notícia de que o Brasil havia saído do mapa da fome, que boas notícias a respeito do Brasil parecem incomodar a alguns brasileiros.

É uma espécie de negação sistemática e patológica de tudo o que é positivo por aqui. Uma amiga contava de uma situação vivida em uma fila para assistir ao documentário Sal da Terra, que mostra a força e a sensibilidade de um dos maiores fotógrafos do mundo, e brasileiro, Sebastião Salgado.

A exibição do filme no Museu da República, no Catete, próximo à sua residência no Flamengo, fez com que ela se animasse mais ainda a ver o filme. Na fila, o fato de uma das operadoras de caixa haver errado e emitido para o dia bilhetes do dia seguinte, suscitou um verdadeiro ”levante” da madames do Flamengo e adjacências.

Segundo minha amiga, nem a palavra de uma outra funcionária, de que tudo seria resolvido e que a sessão só se iniciaria com tudo resolvido, valeu para evitar as famosas frases do tipo, ”Isso é Brasil”, “Só podia ser no Brasil”.

Minha amiga , em defesa da pátria, sacou de sua experiência de três anos e meio vividos na Suécia e disse que errar é humano e que na Europa, onde viveu por um tempo considerável, também se cometem erros, calando as ruidosas senhoras.

Nesta pitoresca história de final de tarde no Rio, temos a essência do que de mais grave vem nos afetando, um certo sentimento de aversão ao Brasil, quer dizer, uma potencialização deste sentimento na verdade.

Uma torcida para que não consigamos dar certo. Um desejo de “paralisar” a nação. Enquanto isso, nós não avançamos em questões estruturantes como a Segurança Pública, que foi reduzida a aumento de efetivo, e isso é cada vez mais latente para aqueles que vivem o cotidiano das favelas, e particularmente aqui no Rio de Janeiro.

Já se passaram 100 dias de 2015, no Complexo do Alemão, 92 deles sob tiroteio e mortes. Espero sinceramente, que nos 265 restantes, o Brasil oficial não interdite o caminho aberto para o Brasil real.

*Membro da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.(Twitter/@ MncaSFrancisco)