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Violência na Rocinha: quanto sangue mais será derramado para essa guerra ter fim?

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Em tempos de Quaresma, quando os cristãos devem estar em paz se preparando para a semana de Páscoa, a Rocinha vive mais um fim de semana de terror. No domingo celebramos a ressurreição de Cristo. É tempo de mudanças. Porém, mais uma vez, confrontos com tiroteios intensos marcaram as vidas dos moradores da maior favela do Brasil. O clima era de guerra e o medo instaurou-se por toda região. 

É inadmissível que tenhamos que conviver com tamanha insegurança. Estamos em 2015, anos após a pacificação e o problema não diminui. Estou aqui para falar sobre as vidas dos moradores, não estou preocupado da arma de onde sai a bala, seja de A ou B. A minha preocupação é onde ela vai parar? Que corpo essa bala vai atingir? Qual vida ela vai tirar? Quanto sangue mais será derramado para essa guerra ter fim?

Não estou aqui para discutir se a pacificação é melhor ou não. Estou aqui para lamentar e representar o sentimento que todos nós moradores sentimos. No domingo de manhã, muito me entristeceu ver minha filha de 2 anos e meu sobrinho de 5 anos conversando sobre o tiroteio. Onde vamos parar? Duas crianças que nem sabem ainda ler, mas já conversam e se desesperam com a violência na favela. 

Além da violência, é a falta de água, é o péssimo transporte público, ruas esburacadas, obras paradas, esgotos correndo pelas ruas, lixo em todos os cantos, entre outros milhares de problemas. É impossível que se faça paz onde as pessoas não têm as mínimas condições de uma vida digna. Nessas condições, o caminho errado se torna uma alternativa para os nossos jovens. E aí do que adianta combater o crime se não são oferecidos caminhos e possibilidades de melhoria das pessoas e da comunidade? 

Mas a esperança e resistência são as marcas dos nossos moradores. No Domingo de Ramos, a missa estava lotada de cristãos com seus raminhos pedindo paz. 

A Rocinha pede a paz! 

* Davison Coutinho, 24 anos, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestrando em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade.