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Uma carta de Natal da Rocinha

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Próximo ao final de mais um ano, é tempo de refletir sobre os acontecimentos fazendo uma retrospectiva do que vivemos em 2014, um ano marcado por diversos eventos e acontecimentos.

Na Rocinha e em outras favelas do Rio de Janeiro, podemos afirmar que foi um ano marcado pela violência. Com frequência acompanhamos o desespero dos moradores que sofreram com a falta de paz nas comunidades. O que aponta que é preciso mudar.

Hoje, dia do nascimento do Menino Jesus, um dia de festa, onde todos compraram roupas e trocaram presentes, desço pela rua principal da Rocinha e me deparo com uma mãe em busca de roupas e brinquedos na companhia de sua filha, uma pequena menina com a esperança de encontrar talvez algum brinquedo para seu Natal. Aquela cena me fez refletir sobre o verdadeiro sentido do Natal e fiquei intrigado em saber o que se passava e o que será da pequena garota.

Ainda no mesmo dia, ao visitar a casa de alguns amigos na ceia, me deparei com jovens que, sem perspectiva de uma vida normal e honesta, se corrompiam com as atividades ilícitas já sabidas dentro das favelas.

Os dois acontecimentos nos faz não chegar a conclusões, mas sim a metas que devem ser alcançadas para que a realidade das favelas mudem de fato. Ora, o que será daquela menina de aparentemente 5 anos que estava catando lixo quando estiver com 15 ou 20 anos, e o que será desse jovem marginalizado? As duas realidades mostram a dificuldade de  que o morador de favela tem de se desenvolver. A pobreza  se perpetua. 

Assim, como no ano passado, eu escrevo essa carta em nome dos mais de 100 mil moradores da Rocinha pedindo que os nosso Prefeito Eduardo Paes, nosso Governador Luiz Fernando Pezão e nossa Presidenta Exma. Dilma Rousseff atendam às demandas das nossas comunidades.

É preciso que sejam criadas possibilidades para que essa criança e esse jovem mude suas perspectivas de vida. O favelado precisa ter a chance de mudar. E toda essa mudança só será possível pela educação e profissionalização.

O ensino integral de qualidade dentro das favelas se faz necessário, mas que seja com ofertas de atividades que preparem essas crianças e não que as escolas sejam apenas para tomar conta ao invés de educar. Os cursos técnicos precisam ser oferecidos para formar mutirões de jovens nas comunidades, oferecendo-lhes uma formação e um emprego. As atividades recreativas e os programas culturais têm que entrar beco a dentro para levar de casa em casa a força que a arte tem de transformar.

Estamos prestes a receber um grande investimento do PAC 2 e esse dinheiro precisa ser usado com honestidade. Os erros do PAC 1 não podem se repetir. Por isso a comunidade precisa fazer parte por meio de uma comissão que seja eleita pelos moradores e que monitore todas as obras e recursos. Se esse dinheiro for usado de maneira transparente, teremos algumas mudanças para melhor.

Está na hora de gastarmos menos com policia e arma e investir na educação, profissionalização e cultura dos moradores de favela. Assim, em algum tempo teremos paz.

Um feliz Natal a todos.

* Davison Coutinho, 24 anos, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestrando em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade.