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A Maré está boa para pedir votos

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A favela da Baixa do Sapateiro, no conjunto de favelas da Maré, teve um dia movimentado e de muitas expectativas e ilusões, nesta quinta-feira, dia 26 de junho. O governador Luiz Fernando Pezão e o prefeito Eduardo Paes criaram uma agenda em comum para fazer o seu palanque no complexo da Maré.

Na ocasião estiveram presentes muitos assessores, variados pré-candidatos às eleições deste ano, alguns empresários e a imprensa. O que me chamou atenção foi o fato de que os únicos moradores da Maré que estavam presentes eram algumas lideranças comunitárias e os 16 presidentes das associações de moradores das 16 favelas da comunidade. Ainda bem que a população de 130 mil habitantes não estava lá para ver o cinismo do prefeito e do governador.

O discurso proselitista da dupla ficou na defesa da reeleição do governador. O prefeito encheu de elogios o candidato à reeleição e o governador apresentou  todos os convidados presentes,um dos mais aplaudidos foi um dos empresários que irá financiar a sua campanha.

Uma das lideranças comunitárias presente levantou uma placa com os dizeres “onde está a academia da terceira idade?” e prontamente brincou, dizendo que as mesmas têm um custo baixo, mas envolve muita burocracia, e para o diretor da Volkswagen essa realização seria mais rápida e viável, por meio de doações que era só assinar um cheque de 19 mil que tudo se resolve.

“Isso é muito fácil, a gente pode pegar ali com a Volkswagen, e ela pode dar umas três academias da terceira idade. Isso é de um custo baixo, mas demora muito por que o Estado tem que licitar e esperar liberação do tribunal. A Volks tira um cheque do bolso e dá três academias para a comunidade e bota a academia cheio de propaganda da Volks. Olha o Eduardo (prefeito) tá dizendo que vai colocar os caminhões da prefeitura tudo Volkswagen” concluiu Pezão no seu discurso.

A declaração do governador não é suspeita, é muito clara, no meu ver ele nos diz: olha, meu empresário está aqui, colocamos sua marca como uma marca exclusiva nos carros do governo e da prefeitura e eles nos beneficia fazendo o nosso papel em alguns projetos sociais e financiando nossa campanha.

Para mim que sou morador da Maré, vejo que esses projetos aqui apresentados foram mais uma tentativa de um ‘cala-boca’. Já estamos engolindo a seco a pacificação das comunidades. Vivendo como nossos passos condicionados, ora, se em cada esquina tem um militar armado, eles só podem estar querendo nos civilizar. Acredito que o Governador olha para a favela e não reconhece o que somos, querem nos tratar não como pessoas, mas como animais que devem ser adestrados. Só podem estar nos enxergando como alguém sem educação que não sabe viver em liberdade.

Pergunto ao prefeito quando virá o ‘Bairro Maravilha’ para as 16 comunidades da Maré? Em breve é a resposta... Quando vão chegar as 39 escolas prometidas no início do mandato do Prefeito Eduardo Paes? Já estamos agilizando o início da obra é outra resposta... E o senhor governador pode nos informar quando teremos saneamento básico em todas as favelas daqui e nosso esgoto não vai mais poluir a Baía de Guanabara? Quando teremos lazer de verdade para nossos jovens, crianças e adolescente? Não há reposta.

Bom o evento oficial seria para a assinatura do contrato de microcrédito de número 500, acompanhada da inauguração do posto de Atendimento de Microcrédito da AgeRio na comunidade da Maré. Mas a fala oficial foi em cima da doação que a Volkswagen fez para o lançamento da unidade móvel, que terá atuação em diversas comunidades. Além disso aconteceu a  inauguração do Programa Comunidade Limpa, também no Complexo da Maré. Dentro do projeto, há uma usina de reciclagem de lixo que será responsável pelo processamento de 70% dos resíduos gerados nas 16 comunidades da Maré, os outros 30% continuam a ser despejados na Baía de Guanabara.

 * Walmyr Júnior Integra a Pastoral da Juventude da Arquidiocese do Rio de Janeiro, assim como a equipe da Pastoral Universitária Anchieta da PUC-Rio. É membro do Coletivo de Juventude Negra - Enegrecer. Graduado em História pela PUC-RJ e representou a sociedade civil em encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ