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Pior que câmara de gás

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Em um dos meus artigos sobre a Rocinha afirmei que o Governador havia pacificado a Rocinha como os alemães fizeram na Inglaterra e que a diferença era que não havia sido usada a câmara de gás. No entanto, acho que me precipitei nessa afirmação, tendo em vista que agora ficou comprovado que a coisa foi bem mais torturadora e violenta que a câmara de gás, foram utilizadas técnicas que ferem todo o direito de vida dado por Deus e garantido pela justiça.

Em pleno século 21 torturar um homem com afogamento, choque e espancamento, além de sumir com seu corpo sem nem sequer a preocupação e sensibilidade de oferecer a essa família o luto e o direito de enterrar seu parente. Enquanto isso o governo faz reuniões devido a preocupação com os Black Blocs, considerando-os criminosos e perigosos, verdadeiros vândalos. Podemos concordar que eles estão usando uma postura radical e contrária ao que é o certo, quebrando tudo que veem pela frente, mas o que significa esse vandalismo na frente de um crime tão cruel como que fizeram com o Amarildo? Vandalismo é termos que aceitar essa política que considera que todo favelado um marginal e não merece viver dignamente.

 Um crime tão bárbaro e desumano como esse levou mais de 90 dias para ser esclarecido com tantos envolvidos. Quantos trabalhadores precisaram ainda terem suas vidas tiradas para que fique provado que esse não é o caminho para transformação social. Enquanto estamos chocados com os crimes nas comunidades, insistindo na tortura e repressão. Nossas crianças estão sem estudar há mais de 2 meses, o que é um verdadeiro crime contra a educação.

Que pacificação é essa? Não podemos considerar paz o que fere o direito de vida de um ser humano.

*Davison Coutinho, 23 anos, morador da Rocinha desde o nascimento. Formando em desenho industrial pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade, funcionário da PUC-Rio.