ASSINE
search button

A Rocinha quer “Mais Médicos”

Compartilhar

O problema na saúde pública não é novidade em nosso país, a Rocinha recebeu nos últimos anos a instalação de uma unidade de pronto atendimento, uma clínica da família, além de ampliação e reforma de outras unidades de saúde. No entanto, os moradores, em sua maioria, se queixam do atendimento prestado pela UPA e Clinica da Família. As queixas são inúmeras e a sensação é de grande revolta por parte dos moradores que sonhavam com uma melhoria na saúde após os investimentos. É impressionante o índice de reprovação em relação ao atendimento dessas unidades.

Entre as críticas mais relevantes está o mau atendimento prestado pelos profissionais, demora no atendimento e na marcação de exames, falta de equipamentos de imagem e falta de especialistas. A reclamação mais grave é a da falta de especialistas.

Somando os prontuários de todas as unidades de saúde da Rocinha é possível perceber que menos da metade dos moradores possuem acesso à saúde, isso nos revela que cerca de 60% dos moradores convivem sem prevenção e tratamento de doenças, que em muitos casos ainda são desconhecidas por falta de diagnóstico.

Por isso, a Rocinha quer mais médicos, queremos especialistas nas áreas de maior prioridade.  É uma profunda tristeza, na verdade uma vergonha, não ter pediatras na comunidade para atender nossas crianças.

Enquanto médico cubano enfrenta preconceito, saúde na Maré é sucateada

Brasil tem déficit de médicos, segundo o Ministério da Saúde, são 1,8 médicos por mil habitantes, um índice vergonhoso, menor do que na Argentina cujo índice é de 3,7 por habitante. Em algumas regiões do país não se tem sequer um profissional de saúde. Nos casos das favelas a situação se agrava, já que muitos médicos se recusam a cumprir com seus juramentos e subir os morros e cuidar do ser humano.

Guilherme Velasco, militante na Rocinha, defende o programa Mais Médicos

Guilherme Velasco, militante na Rocinha, defende o programa Mais Médicos

O projeto ideal para a saúde precisa ser reformulado, investimentos precisam ser feitos em toda a estrutura, inclusive na formação e apoio aos médicos do nosso país, é preciso incentivo e investimento nas faculdades de medicina. Todo esse processo é a longo prazo, porém, precisamos de médicos agora. Exigimos médicos com qualidade e competência, sem dúvida é preciso que se tenha reconhecimento de seus diplomas de formação no território brasileiro, afinal precisamos confiar nesses profissionais.

Importar médicos ou não já não é mais a questão, o que não podemos é permitir que pessoas continuem morrendo por falta de médicos, em muitos casos por doenças que seriam facilmente tratadas. Se não temos profissionais disponíveis no país é claro que é preciso trazê-los de fora, seja da onde for. O que é inadmissível é em pleno Século XXI ter locais sem atendimento médico. A Rocinha quer especialistas, quer saúde de qualidade.

O morador Guilherme Velasco, envolvido nas causas sociais da Rocinha e participante de um grupo de liderança na comunidade defende sua opinião sobre os médicos cubanos: “O ideal seria que tivéssemos mais faculdades e formássemos médicos em massa (como faz Cuba), mas isso é um investimento de longo prazo e a saúde das pessoas é algo pra ontem... Acho que a medicina no Brasil só tem a ganhar com esse intercâmbio, sobretudo no trabalho preventivo que é muito forte no currículo dos cubanos“.

Simone Rodrigues, militante na comunidade há mais de 13 anos, estudante de direito, vem acompanhando a situação da saúde na comunidade. "Tem milhares de famílias vulneráveis sem nenhum programa de assistência medica, É uma boa medida já que os médicos brasileiros não querem trabalhar no interior, na nossa realidade. Tem médico que não sobe morro”.

Os verdadeiros interessados, os moradores das favelas e áreas pobres, onde não tem médicos, esses sim precisam ser ouvidos, uma mãe desesperada, com um filho no colo, não está preocupada com a nacionalidade dos médicos, a mãe quer ver seu filho curado, é preciso deixar o preconceito e revolta de lado e pensar no que é melhor para as populações menos assistidas. Seja nacional ou estrangeiro, o importante é o beneficio da população desassistida.

*Davison Coutinho, 23 anos, morador da Rocinha desde o nascimento. Formando em desenho industrial pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade, funcionário da PUC-Rio.