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A morte de Eduardo e a memória de Arraes

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A morte de Eduardo Campos, uma dura perda para a democracia, ocorre na mesma data de agosto em que seu avô, Miguel Arraes, faleceu, há nove anos. 

A notícia estarreceu o país. Eduardo era uma das mais marcantes lideranças da nova geração de brasileiros. Entrou para a vida pública logo após a formação universitária, como secretário particular do governador Arraes, cargo em que se destacou,  e teve suas lições de política.      

Sua ambição era a Presidência, e quem ambiciona esse cargo não conta com obstáculos, mas tampouco dispensa os acordos, quando necessário.  Também na política, a esperança é a última que morre. 

Mais do que do futuro, interrompido brutalmente pela queda do avião em que viajava, agora  vale lembrar os méritos de Eduardo e a importância de sua família na vida brasileira.  Ele não havia nascido, quando seu avô foi arrancado com violência de seu gabinete no Palácio das Princesas, e metido na prisão em Fernando Noronha,  onde passou onze meses seguidos. 

Seu advogado, Sobral Pinto, impetrou pedido de habeas-corpus junto ao Supremo Tribunal Federal, que o concedeu por unanimidade. Sobral aconselhou-o a aproveitar a liberdade e partir imediatamente para o exílio.  

O destino era a França, que lhe negou asilo. Partiu então para a Argélia, onde conseguiu trabalho e viveu até a anistia. 

Eu o conheci quando era prefeito de Recife e o entrevistei para o Binômio, semanário de Belo Horizonte. O melhor depoimento sobre Arraes governador é uma série de reportagens publicadas neste Jornal do Brasil por Antonio Callado. 

A brutalidade dos senhores de engenho e a miséria dos trabalhadores rurais eram tamanhas que Callado as resumiu em uma frase: ali, a honra, como o banheiro, só existia na casa grande. 

As filhas dos trabalhadores da cana a ela não tinham direito. Arraes incentivou Francisco Julião e suas Ligas Camponesas, para descobrir, mais tarde, que elas só existiam no verbo inflamado de seu pretenso líder. 

Mas conseguiu, durante seu governo, aumentar o salário dos trabalhadores dos canaviais e dos engenhos, e promover a formação dos sindicatos rurais como braço político das Ligas Camponesas. É essa tradição de vida pública, que ele soube seguir, que se interrompe com a morte de Eduardo Campos.