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Os estertores

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O que o Brasil viveu nestes cinco dias não será esquecido. Os custos ainda são inestimáveis mas nenhuma outra greve foi tão onerosa, afetou tão largamente a população e tantos setores da economia. Imagens como as de hectolitros de leite derramado ou de frangos se devorando calaram fundo. Greve ou locaute, agora o governo foi a nocaute. No rescaldo político, vem aí o fogo alto do Congresso contra Temer, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, e sua política de preços. Como atravessar os sete meses que restam? Esta é a questão. 

Ao desarticular o movimento com emprego das Forças Armadas o governo evitou o colapso em marcha mas os erros anteriores, que permitiram a visita do caos, não serão perdoados. Nem pelos aliados, nem pelo tal mercado, para não falar no povo. Por isso ainda são incertos os desdobramentos. 

Na terça-feira o Congresso fará uma Comissão Geral,  sessão especial bicameral para debater  a política de preços,  a greve/locaute e a conduta temerária do governo. Podia discutir os próprios erros, pois também contribuiu.  Foram convidados Parente, o ministro da Minas e Energia, Moreira Franco e o presidente do Cade,  Alexandre Barreto. Será um espetáculo do gênero “como chutar um cachorro morto”. Dizer que é oportunismo eleitoral não altera a questão. Navio furado, ratos em fuga. Como fizeram com Dilma, para dar a cadeira a Temer. 

O deputado Miro Teixeira diz que se o Congresso fosse sério faria o impeachment de Temer. Colocou a ordem pública em risco e o remédio final, a ação militar, embora necessária, foi arriscada: poderiam ter ocorrido confrontos e levante de outros setores criando uma convulsão.  Mas todo mundo acha tarde para uma eleição indireta,  faltando 120 dias para o pleito. A oposição vai aposentando o “Fora Temer”:  nenhum pretexto deve ser dado a quem chama os militares, agora tão assanhados, em todos os apertos. O mais importante é garantir as eleições. Mas a terceira denúncia da PGR está no radar. 

A grande base que fez o impeachment já estava rota, mas agora ruíram também as relações de cúpula. A trombada de Temer com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi feia.  Querendo ser o pai da solução, acusa o governo,  o pré-candidato pelo DEM aprovou a emenda zerando o PIS-Cofins sobre o diesel. Viu-se depois que o governo tinha razão, o custo fiscal seria de R$ 12 bilhões, não de R$ 3,5 bilhões. Maia criticou duramente o emprego das tropas (“coisa de governo fraco”) e condenou a política de preços de Parente. 

O governo precisa agora do presidente do Senado, Eunício Oliveira, para derrubar a emenda do PIS-Cofins no projeto de reoneração. O Senado porá preço: “a política de preços da Petrobras é que está errada. Temos que abrir a planilha”, diz Eunício, que é do MDB do B. Não apoia Henrique Meirelles, mas Ciro Gomes. 

Pedro Parente é um queridinho dos tucanos mas uma corrente se alinha com o senador Cássio Cunha Lima: “Chegaremos ao tempo em que o presidente da Petrobras é quem nomeará o presidente da República? Parece que caminhamos pra isso. Se o senhor Pedro Parente não se demite, que seja demitido, pelo bem do Brasil.”  Na sexta-feira boatos de que Parente se demitiria agitaram o mercado. Ele e outros no governo negaram mas o Congresso quer sua cabeça. 

A esquerda ficou inicialmente aturdida pela eclosão de um movimento autonomista, de onde ecoava a pregação de intervenção militar. Depois, percebendo a fragmentação, a esquerda se achegou.  O MST levou comida às rodovias, as centrais sindicais declararam apoio, bem como as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, o PT e o PSOL.  O PT ainda foi à forra verbal, comparando os aumentos de Lula/Dilma com os de Temer/Parente. Candidatos de centro se calaram. 

Neste quadro político piorado, o governo zerou a credibilidade e ficou completamente refém do Congresso. A conta alta vem ai, apontando para o fundo do poço.