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O tempo do PT

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Amanhã faz um mês que o ex-presidente Lula foi preso, mas, na cena política, ele continua presente. A eleição segue tão ou mais incerta do que antes. Há quem veja o PT numa sinuca de bico: se mantém Lula candidato, pode ficar tarde para apresentar e trabalhar o nome por ele ungido. Mas antecipar a desistência, jogando Lula na invisibilidade, seria abdicar do precioso ativo eleitoral que ele representa. Esse é um dilema visto de fora, mas dentro do partido a disposição é para fazer com Lula, sob seu comando, o jogo do tempo. 

Se nesses últimos 30 dias, com todo o isolamento, Lula fez política valendo-se dos advogados, seja para receber notícias políticas, mandar cartas aos apoiadores ou recados aos petistas, agora, então, ele terá mais controle do processo. Poderá receber duas visitas de não familiares por semana. Nem todos serão petistas, pois a demanda é grande. Amanhã receberá Leonardo Boff , é possível que receba Ciro Gomes em breve. Mas a brecha será usada  principalmente para orientar seu partido.

Iniciativas como o encontro de Fernando Haddad com Ciro ou a declaração de Jaques Wagner, admitindo o apoio a Ciro com um petista de vice, foram movimentos individuais e nada mais. Levaram bordoadas. Valter Pomar, da tendência Articulação de Esquerda, acusou Jaques de não propor um plano B, mas um plano “S” de suicídio. A senadora Gleisi Hoffmann acrescentou que Ciro “não passa no PT nem com reza brava”. Jaques, depois de visitar Lula, corrigiu-se, dizendo que vai com ele “até o final da linha”. E o plano é o já conhecido: mantê-lo como candidato, para preservar o cabedal de votos, e tratá-lo como preso político até agosto, quando o pedido de registro de sua candidatura deve ser impugnado pelo TSE. Até lá muitas águas vão rolar, e a decisão será tomada no calor da conjuntura. 

O plano tem custos, como a ausência de um candidato petista nos eventos da pré-campanha. Na sexta-feira, Gleisi protestou contra a exclusão de Lula da série de entrevistas que UOL, Folha de S.Paulo e SBT farão com os presidenciáveis, lembrando que ele não perdeu os direitos políticos e está em primeiro lugar nas pesquisas. Mas, preso, ele não pode comparecer e outro não pode representá-lo. No curto prazo, pode crescer a migração de votos lulistas para outros candidatos, como indicado pela última pesquisa Datafolha: Lula passou de 34% para 31% na média dos cenários. Mas o grosso de seus eleitores,  quando ele foi excluído da cartela, migrou mesmo foi para brancos, nulos ou nenhum dos candidatos. 

Nas próximas semanas, avaliam os petistas, não deve haver forte movimentação de votos. Em junho começa a Copa do Mundo, desviando o foco das atenções. E logo estaremos em agosto, haverá o pedido de registro da candidatura. Observados os prazos para recursos, a decisão só virá no início de setembro. O horário eleitoral já estará no ar, com Lula candidato. Negado o registro, será hora de optar entre lançar o ungido ou esticar a corda judicialmente, com recurso ao STF, um jogo mais arriscado. Esses cálculos levam a uma concordância entre os petistas e o pré-candidato do DEM, Rodrigo Maia, para quem a disputa será decidida nos últimos 15 dias da campanha.

Assim, por ora, o debate sobre substitutos está interditado no PT. Seria jogar a toalha antes da hora, fazendo o jogo dos que desejam Lula fora da política. Para ficar fora, ele mesmo teria dito, teria se exilado. Não errando no tempo, o PT acha que pode levar seu candidato ao segundo turno, convertendo os votos lulistas em votos petistas. Segundo o Datafolha, dois em cada três eleitores de Lula admitem votar em nome por ele indicado. Mas disso o PT não quer tratar agora, pelos motivos acima, mas também por saber que a fumaça branca virá de Curitiba.