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Duelo marcado

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Na terça-feira Temer jantou com  presidentes regionais do MDB de 11 estados. Buscava promessa de apoio à sua candidatura à reeleição ou à de Meirelles. Convidado, o senador Renan Calheiros, presidente da seção alagoana, não compareceu. No dia seguinte foi atacado pelo ministro Marun: “faltou, mas a inaugurações de obras ele vai”. Renan lidera um movimento no partido contra a candidatura própria a presidente. E não é porque prefira Lula ou qualquer outro. “Na situação atual, candidaturas a presidente sem perspectivas de vitória arrebentam com os partidos”, diz ele. Tudo indica que a convenção do MDB será uma escaramuça entre duas alas, como já aconteceu no passado. 

O que Renan está dizendo é que, se a candidatura não tem futuro, gastar dinheiro com ela é um péssimo negócio para o partido. Reduz os recursos para campanhas a governador, a senador e deputados.  O MDB sempre extraiu seu poder do peso de suas bancadas na Câmara e no Senado.  A lei eleitoral criou o fundo eleitoral para financiar as campanhas, já que as doações empresariais foram proibidas pela conhecida razão de que descambam para a corrução, mas não fixou regras de partilha. Deixou isso a cargos dos comandos partidários. Uma ironia, como ele recorda. “Rejeitamos o sistema de voto em lista alegando que ele fortaleceria os caciques, que teriam poder para montar a lista. Mas entregamos a eles poder maior, o de controlar os recursos segundo seus interesses eleitorais”. 

Temer, com sua impopularidade oceânica, e Meireles com seu nanismo eleitoral, são candidatos sem perspectiva de vitória. Se o MDB bancar uma das duas candidaturas, um bom quinhão dos mais de R$ 230 milhões que o partido receberá do fundo eleitoral será torrado na campanha presidencial.   Afora esta razão financeira, existe a contaminação. Quem aparecer ao lado de Temer vai perder votos. Meirelles tem rejeição menor mas não agrega nada. “Com uma candidatura ou outra, vamos eleger bancadas menores no Senado e na Câmara”, diz Renan.  Caso exemplar, o de Marta Suplicy. Tem potencial para se reeleger senadora, mas se começar a desfilar em São Paulo com Temer, a vaca vai pro brejo. Estar com também dificulta o fechamento de alianças nos estados com partidos que tenham outros candidatos a presidente. E tudo isso pode resultar em encolhimento das bancadas. Há dois anos, o MDB esperava eleger 10 senadores, que somados aos Cinco que ainda têm mandato pela frente, dariam uma bancada de 15. Com Temer na parada, elegerá no máximo sete. 

Renan não esta só na oposição às candidaturas Temer/Meirelles. Estados como o Pará, Pernambuco, Paraná e Sergipe vêm externando as mesmas preocupações. Se o movimento contra a candidatura própria crescer, na convenção de julho podem se repetir os confrontos vulgares e violentos que já assistimos no passado. 

Poucos se lembram da ruidosa convenção do PMDB de 1998, quando os apoiadores da reeleição de FHC humilharam o ex-presidente Itamar Franco, que pretendia ser candidato.  Em 2002, os defensores do apoio ao tucano José Serra trocaram sopapos com os que eram contra. Em 2006, Itamar e Garotinho foram tratorados pelo comando partidário, que não queria candidatura própria.  A maioria das seções estaduais apoiou Lula que, reeleito, levou o partido para o governo. Em 2010 a convenção foi pacifica, homologando a aliança com o PT e indicando Temer como vice de Dilma. Para quem não viu estes espetáculos, julho vem aí.

DE DUAS, UMA

 Na fala exaltada com que se defendeu das suspeitas de ter lavado dinheiro com imóveis Temer disse: “...eu não posso sair daqui da Presidência, não sei quando, para carregar essa pecha irresponsável”. Seu mandato acaba em 31 de dezembro mas se não sabe quando sai, ou receia cair antes, com uma terceira denúncia, ou acredita no adiamento das eleições. Tudo no Brasil agora é possível.