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O angu mineiro

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A ex-presidente Dilma Rousseff  foi colocada numa fria. O MDB mineiro, que manda na Assembleia Legislativa, retaliou o governador Fernando Pimentel autorizando a abertura do processo de seu impeachment.  Mas se o PT local rifar a candidatura da ex-presidente Dilma Rousseff  ao Senado pelo estado, como já se fala em Minas, o processo não dará em nada.  Dilma está calada, dizem que irritada, e com razão.  Podendo sair pelo Rio Grande do Sul, onde tinha domicílio eleitoral, ela foi convidada a concorrer ao cargo por governadores de outros três estados onde obteve bons índices nas pesquisas mas atendeu aos apelos do ex-presidente Lula e de Pimentel e transferiu seu titulo para Minas. Agora, sua candidatura pode ser rifada para garantir a aliança do PT com o MDB que a derrubou com o impeachment. 

No dia 6, Dilma estava no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, onde Lula controlava a hora e a forma de sua prisão, e lá teve uma conversa com ele e Pimentel. Eles tinham em mãos a pesquisa Vox Populi em que ela aparece com 21% de preferência para o Senado (com Aécio Neves na cartela) e 23% sem ele. Para governador, Pimentel obtém 18%, em empate técnico com o tucano Antônio Anastasia.  Concorrendo, Dilma seria uma boa puxadora de votos, tanto para eleger a bancada como para reforçar a posição do governador na disputa da reeleição. Ela saiu do sindicato, pegou um avião para  Belo Horizonte, transferiu o título e retornou.  O prazo se esgotava no dia seguinte. Agora, está no meio deste angu mineiro. 

Os governadores Flavio Dino, do Maranhão, e Welington Dias, do Piauí, também com base em pesquisas, haviam convidado Dilma a disputar o Senado por seus estados. Mas seu melhore índice foi no Ceará: 54% de preferência e o convite do governador Camilo Santana e do ex-governador Cid Gomes, que foi seu ministro.  Ambos queriam, com a candidatura de Dilma, derrotar o rival emedebista Eunício Oliveira, presidente do Senado. Ela cogitou aceitar, embora isso fosse gerar uma situação delicada. Cid é irmão do candidato do PDT, Ciro Gomes. 

A articulação de sua candidatura ao Senado por Minas pegou o MDB de surpresa. Pimentel, como é sabido, tem um vice emedebista que é seu inimigo, Antônio Andrade, mas é apoiado pela ala liderada pelo presidente da Assembleia, Adalclever Lopes. O acordo eleitoral previa que ele seria um dos candidatos ao Senado.  A coligação poderia lançar dois, pois haverá duas vagas em disputa, mas ele correria grande risco de não se eleger.  Os tucanos podem ficar com a segunda vaga, anda que Aécio não concorra, por conta de seus problemas com a Justiça.  Pimentel resolver trucar, insinuando que os emedebistas teriam de pegar ou largar e eles deram o troco. Como diz um deles, têm a maior bancada e o maior número de prefeitos. “O macaco é que come a banana, não é a banana que come o macaco”. 

Mal foi aprovado o pedido de impeachment contra Pimentel, na quinta-feira, começaram a circular rumores de que o PT pode sacrificar a candidatura de Dilma ao Senado. O líder do governo, deputado Durval Ângelo, defende abertamente o recuo. Dilma está calada, Pimentel também, mas os petistas ligados a ele espalham que ela pode ser candidata à Câmara. Resta saber se ele vai aceitar, depois de ter perdido a chance de uma eleição certa pelo Ceará.  Será muito complicado, para Dilma, compartilhar um palanque com candidatos a deputado do MDB que conspiraram com Temer para derrubá-la e votaram a favor de seu impeachment. Por outro lado, Dilma está entrando na mira da Lava Jato.  Em sua delação negociada com a Polícia Federal, por exemplo, seu ex-ministro Antônio Palocci estaria dizendo que ela conhecia as negociatas entre empreiteiras e partidos aliados na Petrobrás.  Pode vir a precisar do foro especial – caso ele não venha a ser bastante reduzido pelo STF – se for denunciada.