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Alckmin vai à luta

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Com sua candidatura enfrentando risco de naufrágio,  o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, saiu do casulo paulista e ontem passou o dia em Brasília buscando oxigênio. Cortejou o DEM, discursando na sessão da Câmara em homenagem aos 20 anos da morte de Luiz Eduardo Magalhães, afagou o pré-candidato Rodrigo Maia, no esforço aqui já relatado para obter a desistência de alguns dos postulantes de centro-direita. Marcou conversa com o presidente do partido, ACM Neto, reuniu-se com as bancadas tucanas, com deputados de outros partidos e foi a um encontro nacional de vereadores. Minimizou a noticia ruim do dia, a pesquisa do IBOPE, restrita a São Paulo, que lhe deu 15% de preferência, no estado que governou por quase 12 anos, contra 16% de Jair Bolsonaro. “Retrato do momento, a campanha só vai começar depois das convenções de junho”, minimizou. 

Seus problemas, entretanto, vão além do desempenho nas pesquisas, que lhe dão sempre entre 6% e 8% de preferência.  As lambadas do Judiciário, com a transformação de Aécio Neves em réu no STF e a condenação de Eduardo Azeredo no processo do mensalão tucano em Minas, incidem negativamente sobre o eleitorado do PSDB, beliscado à direita por Bolsonaro e à esquerda por Joaquim Barbosa e Marina Silva. No PSDB paulista o clima é de vaca estranhando bezerro. O candidato tucano a governador, João Dória está em guerra aberta com o vice que herdou o governo de Alckmin, Márcio França, do PSB, candidato à reeleição.  A mando de Dória, o PSDB local expulsou tucanos que resolveram permanecer no governo.  Alckmin tenta manter um pé em cada canoa, de olho nos votos do PSB. Para completar, ele magoou os mineiros, ao dizer que Aécio não devia ser candidato a nada para não prejudicá-lo.  Para quem é refugado no Nordeste, entrar em Minas é crucial. 

A aposta do tucano é na convergência dos candidatos de centro-direita, vale dizer, na desistência de alguns deles. Mas candidato sempre acha que lá na frente vai desencantar e passar de gata borralheira a princesa. O DEM deu prazo até junho para Rodrigo Maia crescer. Ele tem tido 1% nas pesquisas.   O MDB jura que terá um candidato para defender o governo, seja Temer, com sua impopularidade quase universal, ou Meirelles, outro nanico de 1%. Mas deles Alckmin vem guardando distância. Está mais interessado num acordo com Álvaro Dias, do Podemos, que tem alcançado 4% nas pesquisas. Ainda que alguns desistam, entretanto, nada garante que seus índices irão para o tucano. Mas é certo que, com tantos candidatos, a centro-direita seguirá espremida entre o lulismo e o bolsonarismo. 

Em matéria de alianças, Alckmin só conta mesmo, por ora, com o apoio do PPS. Talvez com o do PSB em São Paulo, se o caldo não entornar com a briga França-Dória. Se fechar com o DEM, um vice nordestino, como Mendonça Filho, pode lhe dar uma cabeça de ponte no reino lulista.  Atrasado na costura de alianças, ele não montou ainda a logística de campanha.  Agora,  parece que resolveu sair da toca e ir à luta. 

OUTROS TEMPOS 

A sigla LEM designava Luiz Eduardo Magalhães no auge de sua curta glória como líder de FHC e presidente da Câmara, que acompanhei de perto. Nos discursos na sessão de ontem, proposta pelo deputado Rodrigo Garcia, e no livro de depoimentos  organizado por  Isabel Flexa de Lima, diretora cultural, um ponto em comum foi destacado: LEM era um liberal clássico, uma rocha na defesa de suas posições ideológicas, mas sempre pronto a dialogar e a negociar.  Entre os muitos oradores, até dois do PT e um do PC do B  fizeram questão de reconhecer a falta que ele faz, nestes tempos de sectarismo e intolerância, sem falar no  oportunismo e na troca da negociação política pela barganha fisiológica. 

CUTUCADA – Do ex-deputado Paulo Delgado, aos que o perguntavam, na homenagem a LEM, se havia mesmo deixado o PT: “Eu não saí do PT, o PT é que foi saindo de mim”.