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Aposta na revolta

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Os cinco partidos de esquerda lançaram ontem o manifesto conjunto “Em Defesa da  Democracia, da Soberania e dos Direitos”. Foi mais um passo em busca da unidade na ação mas ainda está longe a possibilidade de uma frente eleitoral, dificultada pela decisão do PT, de manter o ex-presidente Lula como candidato, mesmo preso, apostando numa interpretação hoje mais intuitiva do que baseada em dados empíricos:   a de que a prisão do ex-presidente e a impugnação de sua candidatura, quando for pedido o registro, alimentarão uma solidariedade revanchista de parcela do eleitorado em favor do substituto.

Mantida esta estratégia, por alguns dias Lula poderá até aparecer no horário eleitoral, que já terá começado.  Isso aconteceria no intervalo de tempo entre o pedido de registro da candidatura (que tem como prazo final 15 de agosto) e o seu indeferimento, seja pelo próprio TSE ou por um pedido de impugnação apresentado por terceiros, com base na lei da ficha limpa.  Muitas gravações com este propósito foram feitas com ele antes da prisão. Indeferida a candidatura, ele já teria dito aos eleitores que, em seu impedimento, votem no candidato indicado pelo PT. 

Embora existam no PT setores que defendem a antecipação da escolha do candidato substituto,   o próprio Lula endossou esta estratégia durante a visita dos senadores da Comissão de Direitos Humanos, anteontem, do qual participaram oito senadores petistas. Com eles,  Lula conversou rapidamente sobre os dilemas do PT,  embora tenha dedicado atenção aos problemas dos aliados: Encorajou Lídice da Matta a brigar pela candidatura ao Senado na Bahia (há um grupo do PSB querendo rifá-la) e João Capiberipe  a buscar o apoio petista na disputa pelo governo do Amapá, por exemplo.   

Na chegada da comissão, pediu que ninguém chorasse mas Vanessa Grazziotin, do PC do B,  não se conteve.  A todos, disse estar bem mas preocupado com os rumos do país. Falou de sua rotina, dos livros já lidos,  dos exercícios físicos que faz usando livros como pesos,   do conforto com o bom dia dos militantes acampados nas proximidades.  Mais de uma vez, lembrou que poderia ter se exilado numa embaixada ou cruzado a fronteira como Uruguai no recente encontro que teve em Uruguaiana com Pepe Mujica , mas que preferiu enfrentar a prisão. “Sei que estou aqui pela ascensão dos pobres. E fiquei porque acho que podemos reverter isso”.  Não reclamou das instalações e disse preferir continuar ali mesmo a ser transferido para qualquer unidade militar ou prisional.  Estava ansioso para falar no início, depois ouviu cada um e confabulou por alguns minutos com os petistas, avalizando a estratégia de mantê-lo candidato.  Está bem informado sobre o andar da carruagem política aqui fora. 

Mantendo Lula candidato, entretanto, o PT dificulta as conversas sobre a unifi cação da esquerda em torno de uma só candidatura.  Boulos, do PSOL, Ciro Gomes, do PDT, e Manuela D’Ávila, do PC do B, não ficarão parados até agosto, quando haveria o desenlace.

AS MÁGOAS DE CIRO 

Ciro Gomes e Lindbergh Farias estavam num mesmo voo ontem, do Rio para Brasília. Avião lotado, não se sentaram juntos mas conversaram por alguns minutos,  trocaram telefones e marcaram uma conversa para os próximos dias. 

À coluna, Ciro reclamou das hostilidades das bases petistas e disse não estar havendo hoje qualquer diálogo com o PT.  Criticou a própria estratégia de defesa de Lula ao longo do processo: “ Se digo que o Judiciário está participando de uma conspiração golpista, estou legitimando isso ao apostar em recursos junto a este poder. Eu teria me exilado para denunciar isso ao mundo”. Ele pretende visitar Lula mas declarou-se espantado com a exigência da juíza de execução penal, de que fosse demonstrado o grau de amizade entre os dois.  “Nossa amizade é pública e notória, e amizade não se mede em régua”.