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Intolerância *

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* por OCTÁVIO COSTA

Não, não estamos no Caderno B e não vou tratar aqui do filme clássico de D.W.Griffith. Falo, sim, do mal que assola a política brasileira. Poucas vezes se viu um ambiente tão hostil em tempos de democracia. Surgem muitas comparações entre a morte de Edson Luís em 1968 e o assassinato de Marielle Franco 50 anos depois. A comoção, de fato, é semelhante, principalmente entre os mais jovens. Mas no ataque da polícia ao restaurante do Calabouço o país já vivia em plena ditadura militar que, a partir dali com a revolta dos estudantes, apertou ainda mais o torniquete autoritário. Hoje, são dias bem diferentes. Há liberdade de ação, de organização, de opinião e de imprensa. 

Entretanto, grupos radicais, paramilitares e fascistas, de gente descontente com o primado do Estado de Direito, consideram-se livres para eliminar quem se opõe a eles. Sentem-se ameaçados pelos que lutam contra todos os tipos de injustiça e discriminação, como disse a deputada Manuela D’Ávila, em entrevista a Katia Guimarães, na edição de ontem do JB. Esses grupos acham que têm licença para matar. São assassinos e não podem ficar impunes.

Em outra frente, menos brutal, a das divergências políticas, a intolerância também é crescente. Tudo é base do “quem não está comigo está contra mim”. Não há meio termo. Não há paciência e muito menos inteligência para procurar entender a opinião contrária. Foi para o lixo a máxima atribuída a Voltaire: “Discordo daquilo que dizes, mas defenderei até a morte teu direito de dizê-las”. Voltaire aconselhou monarcas esclarecidos, mas, nesse clima de agressão e confronto, sua diplomacia já era. Hoje, em terras brasileiras, as opiniões diferentes são recebidas aos trancos e barrancos. Como diria Darcy Ribeiro, a clivagem é nítida. E, por causa disso, o pau quebra. No STF, no meio acadêmico, nas ruas e nas cidades. Evidentemente sobra para todos os lados. Pau que dá em Chico dá em Francisco. 

O que não falta é exagero. Vai aqui um exemplo da semana que passou. Em sua tumultuada caravana pelo Rio Grande do Sul, o ex-presidente Lula foi a São Borja, terra de Getulio Vargas e João Goulart, berço do ideário trabalhista. Num gesto simpático ao eleitorado local, Lula pôs no pescoço o lenço vermelho dos maragatos, que era uma marca registrada de Leonel Brizola. Juntou ao símbolo gaúcho o lenço quadriculado da causa palestina. Em sua edição de sexta-feira, o “Jornal do Brasil” registrou em destaque o gesto do líder petista. Para quê?  Sem pestanejar, Flavio Damm, criador de um Centro de Tradições Gaúchas, nos enviou mensagem afirmando que o uso do lenço maragato por Lula era “uma ofensa à história de um Rio Grande heróico” e também uma ofensa pessoal a ele e seus amigos.  Lembrou que maragato é o nome dados aos sulistas que iniciaram a Revolução Federalista no Sul em 1893. E deu a Lula o tratamento que os maragatos dispensavam a seus inimigos, os chimangos, conservadores e partidários do governo central. 

Como se vê, o autor da mensagem acredita que cabe a ele, qual um Deus dos pampas, decidir sobre quem pode ou não usar lenço maragato. Imaginem só se o ex-presidente Lula estivesse trajando bombacha e trouxesse na cintura boleadeiras e na mão um chimarrão. O pobre do tradicionalista teria um infarto fulminante. O que não faltam hoje são donos da verdade dispostos a cuspir fogo nos inimigos. O Brasil vive dias de pura intolerância. 

A FAVOR DE CIRO 

Em entrevista a jornalista Nani Rubin, da escola do  “Jornal do Brasil”, mas hoje no veículo do lado de lá, a atriz Patrícia Pillar saiu em defesa do ex-marido Ciro Gomes, que é pré-candidato à Presidência pelo PDT.  Afirmou que conviveu 17 anos com Ciro e “ele nunca foi machista”. Explicou que a frase infeliz - “a minha companheira tem um dos papéis mais importantes, que é dormir comigo” - só aconteceu porque Ciro estava cansado, esgotado e perdeu a paciência. “Ele me pediu desculpas e eu compreendi imediatamente”. Patrícia também declarou voto em Ciro: “Não há menor chance de o meu voto não ser dele”.