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Escola de cosmólogos

Encontro que reúne pesquisadores brasileiros e de todo o mundo comemora 40 anos

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Qual a origem do Universo? Para onde vai? É infinito? Está em expansão? Hoje em dia, pesquisadores brasileiros e de todo o mundo que se debruçam sobre essas questões são valorizados e até admirados. No início dos anos 1970, no entanto, a cosmologia era considerada um ramo acessório da física, meramente especulativo e mais próximo da filosofia. O panorama mudou, pouco a pouco, com ajuda da Escola Brasileira de Cosmologia e Gravitação, projeto criado em 1978 por Mário Novello, que por sua abrangência internacional também é chamada de Brazilian School of Cosmology and Gravitation (BSCG). 

De hoje a sábado, na sede da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPF), na Urca, acontece o 17º encontro da escola, que comemora 40 anos de existência  - e defesa da cosmologia e do investimento em  pesquisa. O evento reunirá cerca de 55 alunos e 10 professores, que discutirão em seminários e mesas-redondas os avanços mais recentes da área. Tão recentes como semana passada, quando foi anunciado a descoberta, com ajuda de sensores localizados no Polo Sul, da origem de uma partícula subatômica que colidiu com a Terra - um neutrino vindo de um buraco negro supermassivo de uma galáxia a cerca de quatro bilhões de anos luz.

Segundo Novello, “uma das principais missões da BSCG é ajudar na formação de jovens pesquisadores de excelência em diferentes campos da cosmologia e áreas afins. Ao longo dos anos, muitos alunos acabaram trabalhando em projetos de professores que vieram dar aulas no encontro, que reúne importantes nomes da ciência nacional e internacional”. O comitê criado para definir os professores para cada edição e os temas discutidos são formados por integrantes de vários países, mas a palavra final é da organização local. 

O renomado físico é autor da tese de que o Big Bang não foi o início do Universo, pelo menos como nós entendemos o significado da palavra início, e sim que a explosão descrita como a origem de tudo foi apenas mais uma etapa de um cosmos em contração e expansão contínua. Antes de se tornar personagem de destaque da comunidade científica brasileira, Novello participou, em 1972, de um encontro sobre cosmologia em Carsège, na Córsega, de onde tirou inspiração para o criar a BSCG. 

“Achei maravilhoso, professores e alunos convivendo no mesmo espaço, uma troca incrível de experiência e conversas, com muitas possibilidades de projetos futuros”, diz Novello, que na época fazia doutorado na Suíça. Ao voltar ao Brasil, ele decidiu criar algo parecido no país. Os tempos, porém, eram difíceis, com a ditadura a pleno vapor. 

Além disso, Novello relata que na época a cosmologia ainda não era vista como uma campo nobre da ciência. Apesar das dificuldades, o físico conseguiu apoio de investidores para realizar a primeira edição da Escola Brasileira de Cosmologia e Gravitação. Com o passar dos anos e o desenvolvimento de sondas e telescópios, a cosmologia foi ficando mais popular, tornando-se mais fácil atrair financiadores. Segundo o cientista brasileiro, por sua longevidade e alcance, abrangendo um visão completa da cosmologia, astronomia e astrofísica, a BSCG é única no mundo. A realização do evento, no entanto, está ameaçada. A edição de aniversário de 40 anos quase não ocorreu por falta de verbas. “Há quatro anos atrás fizemos um encontro em Mangaratiba, no qual todos os participantes ficaram hospedados juntos, o que possibilita uma troca maior. Desta vez, não conseguimos isso. A situação da ciência no Brasil é terrível hoje com o atual governo. Faltam investimentos e vontade política”, critica o físico.