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Publicações buscam um lugar para a ciência nas redes sociais

Estudo analisa como as revistas se comportam no Facebook

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Em meio aos memes e “textões” do Facebook, revistas especializadas em ciência estão se esforçando para tornar seu conteúdo cada vez mais atrativo para seus leitores. Como isso é feito dentro da maior rede social do mundo é o tema de pesquisa de Artur Daniel Ramos Modolo, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Para o estudo que resultou na tese Formas Responsivas no Facebook: Curtir, Comentar e Compartilhar a Divulgação Científica em rede social, Modolo acompanhou durante quatro meses as publicações no Facebook das revistas Superinteressante, Pesquisa Fapesp e Scientific American Brasil e analisou as postagens baseando-se na teoria do pensador russo Mikhail Bakhtin. “Escolhi essa teoria porque ela não se centra apenas no texto, mas também na questão extralinguística. E isso é muito importante quando vamos analisar uma mídia contemporânea, que carrega essa questão da hipertextualidade”, explica.

Isso quer dizer que a repercussão de uma publicação não depende só do seu enunciado, mas do conjunto de enunciado, imagem e hiperlink. E essa combinação pode variar de acordo com os propósitos editoriais de cada revista.

Na Superinteressante, por exemplo, matérias científicas podem vir acompanhadas por imagens que não sejam exatamente científicas. Notícias associadas a imagens de celebridades, políticos e figuras de projeção no geral despertam o interesse de um público mais amplo para um assunto que pode ser, por vezes, de interesse de poucos.

Segundo o pesquisador, a tendência é que a revista se torne cada vez mais informal e bem-humorada nas redes sociais. Um dos exemplos é a matéria Faraó Tutancâmon tinha uma faca que veio do espaço, a mais curtida pelos seguidores da revista no Facebook. Com a chamada “Cientistas descobrem que o metal da arma branca do faraó adolescente é coisa de outro mundo”, a expectativa é a de que a faca seja uma prova de que alienígenas tenham entrado em contato com humanos, mas, na verdade, ela foi apenas moldada com metal de um meteorito.

“Já a revista Pesquisa Fapesp tem um perfil menos popularesco do que a Superinteressante“, compara Modolo. “O interesse deles não está tanto no capital econômico, mas sim em garantir prestígio aos pesquisadores e dar uma devolução aos contribuintes do Estado de São Paulo.”

Por fim, a Scientific American Brasil é a página com menos interações e seguidores dentre as analisadas na tese. Suas publicações são majoritariamente traduções da versão norte-americana.

Responsividade

Uma das características próprias das redes sociais estudadas na tese é a responsividade. Para Modolo, a capacidade de interagir instantaneamente nas redes mudou a forma como o veículo e o leitor se relacionam. Se antes as revistas só contavam com o feedback dos leitores através do espaço da “carta do leitor”, hoje eles veem a repercussão de seu trabalho com mais rapidez e agilidade. Além disso, a forma de responder a uma publicação — curtindo, compartilhando ou comentando — também reflete o envolvimento que o leitor teve com a matéria.

“Quantitativamente as curtidas são a forma responsiva mais utilizada pelo usuário. São as favoritas do leitor hipertextual, porque ele pula de uma coisa para outra”, diz Modolo. “Por outro lado, os comentários e compartilhamentos permitem que o leitor exponha de forma mais aprofundada aquilo que pensa. Ao compartilhar, o leitor se envolve um pouco mais com a pauta porque aquilo vai parar no perfil dele.”

Para Modolo, as revistas tentam acompanhar as mudanças da web 4.0, uma rede inteligente que toma e sugere decisões a partir dos dados que dispõe. “Algo que as une é a capacidade de gerar enunciados que prendem a atenção de um leitor que é cada vez mais bombardeado por informações”, analisa.

É como se houvesse um momento de aumento exponencial da informação e de diminuição da atenção; e há uma busca por produzir aquilo que é capaz de capturar essa atenção, que é tão disputada.”

Além de se adaptar às novas formas de interagir na internet, a divulgação científica também convive com seus vários formatos e fontes, sejam blogs pessoais, sites institucionais, redes sociais ou impresso, pois “boa parte daquilo que acontece na internet não substitui as formas que são predecessoras”.

Em sua tese, o pesquisador ainda conclui que “nenhuma das páginas analisadas almeja única e exclusivamente comunicar a ciência, fomentar o interesse por questões acadêmicas e de pesquisa”, constata. “Em certo grau, há igualmente o desejo de fazer com que os leitores acessem seus sites oficiais e consumam o material impresso pela revista (dossiês, números especiais, assinaturas etc.).”

*jornal da USP