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Saiba porquê emocional fica mais frágil no fim do ano e evite excessos

Entrevista com Jorge Jaber,  psiquiatra especialista em dependência química 

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O médico psiquiatra Jorge Jaber, membro da ABP - Ass Psiquiátrica Brasileira, especialista em dependência química em Harvard, explica o que acontece no campo psicológico e emocional do ser humano comum com a proximidade do fim do ano e diz porque deve-se evitar os excessos. 

1 – As pessoas ficam mais estressadas a cada fim de ano?  

Fim de ano é época de fechar ciclos, fazer balanços, comemorar, se arrepender. A sensação de dever cumprido faz com que muitos se sintam no direito de exagerar. Já a frustração e a tristeza por planos não realizados vêm acompanhados por uma sensação de que algo vai mudar mais uma vez, haverá uma nova oportunidade e é preciso firmar novos pactos consigo mesmo. A pressa para tentar resolver tudo o que faltou no pouco tempo que resta gera ansiedade.

Também é um tempo em que a solidão aparece mais. Os afetos são colocados em xeque, com a proximidade do Natal. São dias de ‘permissão’ para excessos em geral, de compras, de emoções. Aumentam o consumo de álcool e outras drogas e também de comidas muito calóricas, o número de internações psiquiátricas por crises depressivas e as tentativas de suicídio. Os mais velhos, que já sofreram perdas ao longo da vida, em geral vêem seus universos mais reduzidos e se sentem mais sozinhos. 

2 – O uso de álcool e outras drogas produz que efeitos no cérebro humano, nesta época de excessos e confrontos com a realidade da própria vida?  

O álcool é considerado uma droga psicotrópica, pois atua no sistema nervoso central causando mudanças de comportamento a quem o consome. O consumo excessivo tanto de álcool como de outras substâncias químicas provoca efeitos no organismo como euforia, desinibição e desenvoltura para falar. Mas, logo em seguida, aparecem os efeitos depressores, a diminuição da coordenação motora, dos reflexos, além de outros problemas de saúde, gerando acidentes e violência.

Do ponto de vista fisiológico, o cérebro humano funciona com os neurotransmissores, que se assemelham às moléculas das drogas, como o álcool, o tabaco, a cocaína, a maconha. Nas datas festivas, há uma tendência de haver falta dessas substâncias no cérebro. Aí, a pessoa toma alguma substância, como o álcool, que é um estimulante em pequenas doses, mas que, se tomado em excesso, acaba produzindo o efeito inverso. Em vez de um estímulo ao sistema nervoso central, ela passa a ter uma inibição do sistema nervoso central, fazendo com que aumente ainda mais a depressão, decorrente muitas vezes da lembrança de pessoas queridas que não estão mais presentes. 

3 – Então os excessos provocam o efeito contrário do almejado ?  

Sim. Há uma inversão de valores nas festas de fim de ano, com crescimento do aspecto mais materialista da data e não dos valores espirituais. As pessoas acabam abusando de substâncias como o álcool, que adicionam no organismo, como adicionam presentes, comidas...Mas o ideal seria que aproveitassem a oportunidade para melhorar a qualidade de suas relações afetivas. A partir daí, há um abuso que pode ser o fator determinante de doenças como alcoolismo e dependência química.

4 – O senhor acredita que haja um estímulo ao consumo de álcool pelos meios de comunicação, mesmo fora das datas festivas ? 

Sim. A propaganda de bebidas alcoólicas sempre condiciona sua ingestão à possibilidade de vida social e sexual. Quer convencer o sujeito de que ele só pode se divertir se beber. O que é uma mentira. E um crime, na minha forma de ver. O corpo humano é capaz de sentir alegria e prazer sem nenhum aditivo. Se a pessoa estiver triste, deve viver sua tristeza e elaborá-la. Se a tristeza se aprofundar e durar muito, deve procurar um médico para ser tratada em sua doença. O consumo de drogas só piora qualquer quadro psiquiátrico e de desequilíbrio emocional e aumenta o estresse.

Para mostrar que o ideal é não usar drogas e evitar os excessos de álcool, há 13 anos faço prevenção em dependência química com o bloco Alegria Sem Ressaca. O bloco sai antes do Carnaval. Em 2017, sairá domingo, dia 12 de fevereiro, na esquina de Av Atlântica com R. República do Peru, em Copacabana. Nossa madrinha é a atriz Luiza Tomé. O craque Zico, a ala máster do Flamengo, Eduardo Dussek, Elisa Addor, Edu Krieger, o Cordão da Bola Preta e o Bloco Sargento Pimenta são alguns amigos da causa.

5 – Alguma dica para os que não têm problemas com o álcool e querem fazer brindes nas comemorações com a família e os amigos?

Uma dica importante a quem quer comemorar as festas de fim de ano sem abrir mão de tomar uns drinques é beber com moderação, não sem antes fazer uma boa refeição. É preciso tomar água enquanto se está bebendo para desintoxicar e o mais importante: é preciso saber a hora de parar.