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Geriatra dádicas de como envelhecer com saúde e bem estar

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Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, é o bairro que mais concentra idosos no país, segundo dados do Censo apresentado em 2015. Os números indicam que 53.431 moradores do bairro estão com 60 anos ou mais.

O bairro proporciona a esta parcela da população uma série fatores que podem fazer com que se viva mais e com qualidade. Dançar, caminhar na praia, praticar exercícios nas praças, grupos que se interrelacionam podem ser apenas alguns dos motivos da longevidade ativa.

Segundo o geriatra Espedito Carvalho, Membro da Sociedade Brasileira de Geriatria-RJ, a população brasileira está envelhecendo. “ Completar 100 ou 120 anos de vida será um fato comum, em um futuro próximo. Hoje, os avanços da ciência possibilitam a vida mais longa e o desenvolvimento de tecnologia genética para prevenir doenças é uma promessa, possuímos avanços tecnológicos na indústria farmacêutica, a melhor qualidade da nutrição e os avanços nas medidas de saúde pública permitem que um indivíduo ocidental, em condições normais de saúde, tenha hoje uma expectativa de vida de quase 80 anos” afirma.

Abaixo, o especialista responde uma série de perguntas que envolvem saúde, longevidade e comportamento relativos ao envelhecimento.

1- O que acontece quando as pessoas começam a envelhecer? A saúde física é sempre acompanhada da saúde mental?

Podemos dizer que várias modificações são percebidas a partir dos sessenta, sessenta e cinco anos. De uma forma mais abrangente, mais genérica, pode-se dizer que a memória não é tão aguçada quanto antes, os movimentos de um modo geral se tornam mais lentos. Isto é mais evidente quando uma pessoa acima de uns 65, 70 anos tenta mudar de uma posição para outra numa mesma sequencia de movimento (claro que sempre existirão as exceções a essas regras).

A memória, assim como os pensamentos, em geral, começam, então, a operar em uma velocidade menor, a pessoa passa a dormir menos, apetite cai, libido também. Além disso, há um aumento das doenças depressivas e dos distúrbios de ansiedade, mas principalmente as depressivas e cardiovasculares.

2- É verdade que a combinação de exercícios físicos com boa alimentação pode proporcionar um envelhecimento com qualidade de vida?

Com certeza. Os avanços, na última década, na pesquisa do cérebro tem evidenciado uma relação estreita entre exercício físico e atividade cerebral. E isso vale não somente para as doenças neurológicas assim como para todas as demais doenças clínicas em geral, em sua grande maioria.

3 - Sua clínica em Copacabana atende muitas pessoas de terceira idade. Quais são as maiores reclamações de quem está envelhecendo?

O esquecimento é sem dúvida o mais frequente.. Esse termo genérico, vago, pode significar qualquer coisa, desde um simples engano em relação onde guardou uma chave ou caneta, passando por faltar a um compromisso e estranhar pessoas do seu convívio diário. Todos merecem investigação.

Existe, o que chamamos de Distúrbio Cognitivo Leve, esta denominação se refere as pessoa que tem esquecimentos frequentes, mas não o atrapalha nas atividades diárias de sua vida diária. Estes pessoas tem que serem submetidas a testes cognitivos frequentes, pois podem ser pródromos da Doença de Alzheimer.

Em segundo lugar, após as queixas de "esquecimento", eu colocaria na minha lista problemas com o sono, sejam eles uma dificuldade inicial de adormecer ou uma dificuldade de sustentar um sono prolongado. Na investigação da insônia descobrimos várias causas em que o tratamento não se dá pelo uso de indutores do sono.

A terceira reclamação mais comum no meu consultório é a depressão. Seja pura ou associada a uma dificuldade de dormir.

4- Como a pessoa deve encarar o envelhecimento?

O envelhecimento é um processo natural e inevitável. E temos o poder de modificá-lo. Primeiramente precisamos saber como estamos envelhecendo, o que podemos fazer para mudar o curso, o quanto “jovem” são nossos pensamentos. A partir daí com mudanças conseguimos um envelhecimento ativo e saudável

5- Os idosos em Copacabana, maior polo de terceira idade do país, fazem exercícios, frequentam grupos, saem em grupos para dançar, ir ao teatro etc... Estas atividades ajudam a ter um envelhecimento melhor e mais ativo?

Sem dúvida. Estas atividades ajudam a colocar em ação uma série de mecanismos e reações metabólicas baseadas em reações químicas produzidas em pessoas que fazem exercícios, com ação direta no funcionamento das células neurológicas. Ou seja, o sedentarismo é tão nocivo na juventude, meia idade, quanto no chamado "idoso”. Não há diferença.

6-Doenças como Alzheimer e Parkinson podem ser evitadas?

Não. Existem vários trabalhos científicos para retardar o aparecimento dessas patologias. Não há nada ainda de concreto, mas direciona nos hábitos alimentares e estilo de vida. Quanto a medicação estamos longe de um ideal.  Essas doenças se encaixam na categoria de predeterminadas. Devemos ter cuidado para não confundirmos estas com doenças hereditárias. Elas são completamente diferentes.

7-O que o senhor recomenda para que o cérebro continue ativo no decorrer do envelhecimento?

  Primeiramente, atividade física regular e hábitos saudáveis (não fumar, baixa ingesta de álcool, açúcares e gordura de origem animal...) são os mais importantes na saúde cerebral. Adquirir novos conhecimentos como realizar outra faculdade, aprender outra língua, tocar um instrumento. Seja o que for, o importante é trabalhar o cérebro, adaptá-lo às mudanças da sociedade pois assim cria-se novos neurônios e grupamentos de associação no córtex do cérebro. Quanto mais estimulado for, melhor será o desempenho intelectual e, consequentemente, a capacidade de memorização.