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'El País': Brasileiros à beira de um ataque de nervos

Ansiedade, angústia, irritabilidade... a tensão política que pesa sobre os ombros dos brasileiros

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Matéria publicada neste sábado (16) no El País, comenta que os almoços de família já não são mais os mesmos: as constrangedoras conversas sobre relacionamentos há tempos deram lugar a longas discussões políticas à mesa. Chega a dar saudades da tediosa época em que a grande questão do dia, nos papos de elevador, era "será que vai chover?", não "será que a Dilma cai?". Com um Governo na berlinda e um cenário econômico desanimador, a tensão que pesa sobre o ombro do brasileiro virou questão de saúde pública. Sem saber para onde caminha o Brasil, cresce nos consultórios o número de casos de pessoas com transtornos ligados a estresse, ansiedade e angústia. Irritabilidade, preocupação, fadiga, falta de sono são algumas das queixas mais comuns. Soa familiar?

Segundo a reportagem, mestre em saúde pública, o psicólogo e professor universitário Ricardo Sebastiani, do Nêmeton Centro de Estudo e Pesquisa em Psicologia e Saúde, coordena uma equipe de 38 profissionais que atuam em 16 unidades da cidade de São Paulo. No primeiro trimestre de 2016, ele e a equipe observaram um fenômeno inédito: nos primeiros três meses do ano, quando o movimento tradicionalmente costuma ser menor, a procura por terapia aumentou. Neste mesmo período, as queixas ligadas a transtornos de ansiedade cresceu 20%, dentro de um universo de cerca de 1.500 consultas por mês.

O jornal espanhol destaca que nas sessões de terapia, a crise política ou econômica tem sido tema das divagações de ao menos 6 em cada 10 pacientes, o que também não era habitual. Mas em semanas de acontecimentos mais quentes, como quando ocorreram as manifestações contra e a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, em março, a proporção chegou a 9 em cada 10. As reclamações têm uma razão real: qualquer que seja o desfecho do processo, o resultado afeta diretamente as vidas da população. "As pessoas estão vivendo um estado permanente de ansiedade e tensão, que às levam aos limites da suas capacidades de resistir e se adaptar. Isso deixa o corpo e a saúde emocional no limite também", diz Sebastiani, psicólogo há mais de 30 anos.

Alguns dos efeitos disso sobre o corpo são: a queda na imunidade (que deixa as pessoas mais suscetíveis a viroses e infecções), sintomas psicossomáticos (diarreias, alergias de pele, dores de cabeça e dores musculares, por exemplo), episódios de crise de ansiedade (ataques de pânico), instabilidade de humor e maior intolerância (o tal pavio curto), além da sensação de cansaço permanente e, em casos mais graves, a depressão.