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'WSJ': China fabrica remédios rejeitados pelo Ocidente

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Matéria publicada nesta quinta-feira (7) no The Wall Street Journal, comenta que os remédios que não conseguiram chegar ao mercado em vários países estão encontrando uma nova oportunidade na China.

Segundo a reportagem, em 2013, a farmacêutica americana Bristol-Myers Squibb Co. parou de realizar testes em todo mundo de um remédio contra o câncer de fígado de primeira linha depois que ele não conseguiu obter um desempenho melhor que o de um concorrente. Mas ela licenciou a droga, a brivanib, para uma “startup” chinesa.

O jornal americano diz que a startup, que se chama Zai Lab Ltd. e é sediada em Xangai, vê um grande potencial no brivanib porque um tratamento com seu remédio concorrente — o sorafenib, desenvolvido pela alemã Bayer AG e a americana Onyx Pharmaceuticals Inc. — custa cerca de US$ 7.500 por mês e não é coberto pelo sistema de saúde do governo.

“Esperamos oferecer um preço mais razoável aos pacientes chineses”, diz Samantha Du, fundadora da Zai Lab Ltd., uma das várias firmas chinesas que estão unindo forças com farmacêuticas ocidentais para comercializar drogas parcialmente desenvolvidas na China.

Elas estão de olho em um mercado onde novas drogas promissoras enfrentam uma longa demora para serem aprovadas, ao passo que os reguladores aceleram a aprovação de medicamentos chineses.

Mas a nova tendência também está levando alguns a questionar se a China se tornou um destino de remédios de qualidade inferior.

I.Glenn Cohen, professor da Faculdade de Direito de Harvard especializado em ética médica, diz que, devido a diferenças nos padrões regulatórios, não é incomum ou ilegal uma empresa ter uma droga aprovada em uma jurisdição e em outra não.

Na China, por exemplo, um remédio não precisa comprovar sua superioridade em relação a outras drogas existentes para ser aprovado — um grande obstáculo nos Estados Unidos, que faz com que 90% dos candidatos a novos medicamentos sejam reprovados no processo de testes clínicos.

Especialistas do setor afirmam que há muito tempo empresas farmacêuticas vendem remédios na China que nunca foram testados ou vendidos em outros países. “Por que? A resposta cínica é porque eles podem”, diz Laura Nelson Carney, analista sênior de pesquisa que acompanha o setor médico da Ásia e Pacífico da consultoria americana Bernstein Research.

O medicamento para acidentes vasculares cerebrais cinepazide foi retirado do mercado na Espanha, Itália e França no fim dos anos 80 e 90, após relatos de problemas sanguíneos associados ao seu uso. Em 2010, o remédio já tinha se tornado o mais vendido na China, de acordo com o Credit Suisse Equity Research, braço de consultoria do banco suíço.

A empresa que vende o remédio, a Sihuan Pharmaceutical Holdings Group Ltd., informa que o cinepazide genérico que produz é mais puro que a versão de marca que é vendida na Europa e sua segurança e eficácia é reconhecida pelas autoridades e pacientes chineses.

A agência da China que regula os setores de alimentos e remédios não respondeu a repetidos pedidos de comentários sobre seu processo para aprovação de medicamentos ou sobre a qualidade dos remédios da China. Autoridades da FDA, a agência americana equivalente, não quiseram comentar sobre testes feitos em outros países.

Há tempos a China tenta facilitar o processo de aprovação de remédios. Em 2007, o país executou Zheng Xiaoyu, que ajudou a criar a agência de controle de remédios e alimentos da China, mas, como seu diretor, foi acusado de aceitar propinas de farmacêuticas tentando obter aprovações.

Durante a gestão de Zheng, mais de 150 mil drogas submetidas a análise foram aprovadas.