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Veneno de cascavel pode ser usado no tratamento do estrabismo

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Pesquisadores da Fundação Ezequiel Dias (Funed) estão desenvolvendo um medicamento à base de veneno de cascavel que poderá ser usado para o tratamento do estrabismo. O projeto de pesquisa é apoiado pelo Programa de Incentivo à Inovação, promovido pelo Sebrae Minas e pela e pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado de Minas Gerais (SECTES). A previsão é que o novo medicamento poderá ser uma opção alternativa eficiente, segura e com menor custo para atender o Sistema Único de Saúde (SUS).

O movimento dos olhos é controlado por músculos que precisam agir em perfeito equilíbrio e sincronia para que os olhos permaneçam alinhados. Entretanto, alguns fatores podem comprometer esse funcionamento e provocar o estrabismo, um distúrbio que afeta o paralelismo entre os dois olhos. Quando não tratado, o problema pode se agravar, levando à ambliopia, que é a diminuição da visão em um ou em ambos os olhos. A perda da visão ocorre porque o indivíduo acaba desenvolvendo preferência por um dos olhos.

Um dos tratamentos para o problema são aplicações periódicas de toxina botulínica, mais conhecida como Botox. Ela causa uma paralisia transitória do músculo e, com isso, um relaxamento muscular parcial. Esse efeito é muito importante no tratamento do estrabismo porque ajuda a restaurar o equilíbrio nos músculos que controlam o movimento dos olhos.

O projeto de pesquisa da Funed traz uma alternativa para o uso da toxina botulínica, a crotoxina, principal toxina do veneno da cascavel sul-americana, que age como bloqueador neuromuscular, efeito semelhante ao Botox. Além disso, apresenta uma série de vantagens, entre elas, os efeitos parecem ser mais duradouros, tornando as aplicações menos frequentes e contribuindo para a redução do número de aplicações ao longo do tratamento. “Isso representar uma importante economia para o SUS”, destaca a pesquisadora Ana Elisa Reis Ferreira.

O projeto de pesquisa já resultou em uma formulação, a crotoxina liofilizada, que foi utilizada em testes preliminares em coelhos. “Os ensaios com os animais apresentaram resultados bastante promissores. Os testes de estabilidade estão em andamento para, então, iniciar os testes não-clínico”, conta Ana Elisa.

A pesquisadora estima que o medicamento injetável para o tratamento do estrabismo, que depende de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), estará disponível para comercialização em cinco anos.

Os pesquisadores da Funed também descobriram que crotoxina poderá ainda ser utilizada em outros tratamentos. Um deles é para as distonias musculares, distúrbio caracterizado por espasmos musculares involuntários que produzem movimentos e posturas anormais. O problema pode provocar movimentos lentos, incontroláveis e abruptos da cabeça, membros, tronco ou pescoço. Além disso, a crotoxina poderá ser uma alternativa para os tratamentos estéticos, nos quais a toxina botulínica é utilizada.

O novo tratamento para o estrabismo é um dos 17 projetos de pesquisa da Funed apoiados pelo PII. Em nove anos, o PII já foi realizado em universidades, faculdades e centros tecnológicos de Lavras, Itajubá, Juiz de Fora, Viçosa, Uberlândia e Belo Horizonte. Ao todo, foram 15 programas no estado, com 280 projetos de pesquisa selecionados e publicados.

Em 2013, o PII chegou à Funed, instituição centenária do estado, referência em pesquisa, dedicada à promoção da saúde pública. A realização desse programa na Funed estimula a pesquisa no setor de saúde, humana e animal, e projeta soluções para o mercado, viabilizando o desenvolvimento de protótipos e planos de negócios.

“São ideias inovadoras em medicamentos, vacinas e tecnologias que ampliam as soluções para tratamento de doenças, controle de epidemias e melhoria da qualidade de vida da população”, afirma a analista da Unidade de Inovação e Tecnologia do Sebrae Minas, Andrea Furtado.