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Cisternas nas escolas melhoram vida de alunos e de comunidades no Semiárido

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A placa de alumínio com a identificação da obra era o último elemento que faltava na cisterna da Escola Furtado Leite, na comunidade Pereiros, em Nova Russas (a 304 quilômetros de Fortaleza). Na prática, o reservatório foi inaugurado pelas chuvas de março, quando as águas serviram para lavá-lo e deixá-lo pronto para garantir que aulas não sejam mais suspensas pela falta desse recurso.

“Tinha a água da rua, que caía um dia, dois não. A gente aparava e ia usando, mas não dava para todos os dias da semana. Às vezes, eu ia pegar no cacimbão [poço profundo] com o carrinho de mão. Já houve vezes em que a aula foi suspensa porque não tinha água”, conta a auxiliar de serviços gerais Mirlânia Magalhães Camelo, que trabalha há seis anos no local.

A agricultora Maria Iranir de Souza, assim como muitos pais, costumava mandar uma garrafa d'água pela neta Maria Heloísa, de 6 anos. “Antes era muito ruim. As crianças tinham que trazer água de casa. A cisterna ajudou muito.”

A cisterna, de 52 mil litros, é a primeira construída dentro do programa Cisternas nas Escolas, que deve inaugurar 2,5 mil unidades em escolas da zona rural no Semiárido brasileiro até o fim de 2015 e mais 2,5 mil em 2016, beneficiando 254 municípios. O programa é coordenado pela Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). O ministério estima que as 5 mil cisternas consigam atender à metade da demanda das escolas do Semiárido que não têm abastecimento regular de água atualmente.

No Sertão de Crateús, serão 83 cisternas distribuídas nos municípios de Nova Russas, Ipaporanga, Independência, Tamboril, Monsenhor Tabosa e Quiterianópolis. Nessas cidades, a construção das tecnologias sociais é feita por meio da Cáritas de Crateús, que foi selecionada pela ASA.

A monitora pedagógica da Cáritas, Valdênia Delmondes, fixa a placa de alumínio com pregos na lateral da cisterna sob os olhos atentos das crianças e dos moradores do local, que tiveram papel crucial na construção do reservatório. Antes de iniciar o projeto, a Cáritas faz encontros com a comunidade para apresentar os detalhes e definir os papéis de cada um.

“A grande importância desse projeto é envolver as pessoas e trazer renda para os moradores. Os pedreiros são agricultores que, no momento de estiagem, estão sem roça. Os serventes são pais de alunos que se dispuseram a ajudar na construção da cisterna para ter água para o filho beber”, explica Valdênia.

“O objetivo da ASA não é construir tecnologias, mas sim cidadania. Muitas pessoas que não vinham à escola passaram a vir a partir desse empoderamento que a gente possibilitou”, destaca.

Dez escolas de Nova Russas foram contempladas e as cisternas já estão prontas. Dentre as unidades selecionadas, cinco são creches, consideradas prioritárias pelo programa. A lista de escolas aptas a receber os reservatórios é feita pelo Ministério da Educação (MEC) a partir de informações dadas pelos municípios no Censo Escolar. A Cáritas de Crateús estima que cada cisterna custe R$ 7,6 mil e que a construção seja feita entre quatro e cinco dias.

De dia, no prédio da Escola Furtado Leite, funciona a Creche Sonho Feliz. Já à noite, o espaço recebe alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Ao todo, 31 estudantes terão acesso à cisterna não só como um reservatório de água, mas também como um item pedagógico.

“Eles vão passar a trabalhar a qualidade da água, como preservá-la e como cuidar da cisterna. Quando a gente vai visitar essas escolas, a gente vê as crianças bem mais animadas, porque já estão trabalhando esses conteúdos, veem que a qualidade da água está melhor. Isso melhora a autoestima delas, porque não é mais necessário mendigar água, recorrer a político A ou B. A escola fica independente”, ressalta a coordenadora do Programa Cisternas nas Escolas e da Educação Contextualizada de Nova Russas, Dina Raquel.

Além dos alunos, a cisterna visa a atender a todos os 322 moradores da comunidade Pereiros. Devido às poucas chuvas deste ano, não foi possível captar água por meio das calhas do telhado da escola. Atualmente, a cisterna está abastecida com água de carros-pipa.