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Seminário de Energia Nuclear debate o desenvolvimento de PPPs

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Prioridade à geração nuclear para garantir, de forma sustentável, energia limpa para suprir a demanda do País e garantir seu desenvolvimento. Esta foi a tônica do VI Seminário Internacional de Energia Nuclear - SIEN 2015, encerrado ontem (19-06), no Centro de Convenções Bolsa do Rio, na Bolsa de Valores, recolocando o setor no centro dos debates sobre a geração de energia do País. As parcerias público privadas para a construção de novas plantas de energia nuclear no País, defendidas pelo governo através do Ministério de Minas e Energia e de representantes da Eletronuclear, com a redefinição do modelo institucional, bem como de que forma ampliar a aceitação da sociedade e opinião pública a respeito do uso da energia nuclear, foram os temas predominantes do ciclo de debates que também.

O presidente da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Aquilino Senra, representando o Ministro Aldo Rebelo, reafirmou a prioridade do setor nuclear para o governo, que não pode ser ignorada na matriz elétrica do País:

"Registro, em nome do ministro, que será dada prioridade à energia nuclear na administração do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O ministro entende que é uma área estratégica, entende seu valor na geração de energia para o País, e reconhece que o desenvolvimento tecnológico precisa do apoio prioritário do Ministério".

Leonam dos Santos Guimarães, diretor de Planejamento, Gestão e Meio Ambiente da Eletronuclear, abriu as atividades do Seminário e também defendeu o desenvolvimento de parcerias público privadas com a liderança do Governo na construção de novas usinas nucleares no Brasil. Guimarães chamou atenção para a necessidade de flexibilização do modelo de negócios no sentido de facilitar e viabilizar maior interesse de empresas privadas. O executivo elencou ainda os desafios do setor que estariam ligados à maior aceitação pública em nível local e mundial e sublinhou também as dificuldades impostas pelas restrições ambientais e sociais, que se impõem no momento de escolha dos sítios capazes de receber uma planta. Leonam reiterou que o Brasil necessita de uma nova base térmica, visto que o potencial hidrelétrico deverá estar esgotado no fim da próxima década. O diretor da Eletronuclear expôs ainda o fato de que o custo da energia nuclear é muito mais barato do que o de outras fontes energéticas e que a geração nuclear não tem desafios tecnológicos e de oferta ao contrário de outras fontes de energia como o gás natural e o carvão mineral.

Assunto que também permeou os debates do seminário foi a questão legal envolvida nas discussões que defendem uma maior participação da iniciativa privada no setor. No painel "Panorama e perspectivas da energia nuclear no Brasil", que contou com a participação do diretor de P&D da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN, Isaac José Obadia, com Antonio Ernesto Ferreira Muller, diretor presidente da Associação Brasileira para o desenvolvimento das atividades nucleares - ABDAN - e com Antonio Teixeira Silva, presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear - ABEN, que defendeu uma mudança na constituição brasileira, que segundo afirma, seria fundamental para atrair as empresas privadas:

"É preciso mudar a constituição brasileira para que a indústria privada possa ser majoritária em projetos de implantação de usinas nucleares".

Durante o debate, a plateia questionou os participantes a respeito de como aumentar a aceitação da sociedade com relação a questão da energia nuclear. Para os presentes no auditório, uma solução seria criar estratégias de comunicação com diversos setores da sociedade como o poder legislativo e executivo para que a informação sobre a questão nuclear tivesse mais espaço na pauta dos brasileiros. A geógrafa Luciana Lovisi, participou da discussão:  

"É preciso dar conhecimento aos parlamentares e favorecer que eles sejam multiplicadores, formadores de opinião. Seria ideal que o poder legislativo dotasse de fato o parlamentar com informações sobre o assunto que está sendo defendido. Esta seria uma forma interessante de favorecer a aceitação da energia nuclear pela opinião pública".

Outro tema que esquentou o painel foi a crítica de Teixeira sobre a falta de uma política de Estado para a energia nuclear: Falta planejamento para o futuro, falta uma integração entre vários setores, entre todos os ministérios. A China, por exemplo, atua de forma integrada em toda cadeia da energia nuclear.   

No painel "Energia nuclear como indutora do desenvolvimento", que também trouxe Aquilino Senra da INB como painelista, Senra destacou as diversas aplicações da energia nuclear e a sua importância no desenvolvimento tecnológico, social e econômico do País, chamando atenção para o uso na medicina, indústria, agricultura e preservação de alimentos. Na medicina, por exemplo, é usada para a produção de rádiofarmacos.  

"[ A energia nuclear] contribui para o desenvolvimento social com treinamentos das pessoas da região de uma planta para trabalharem nos projetos de energia nuclear. São empreendimentos que mudam uma região a partir da relação com a comunidade. Pesquisas apontam que a energia está ligada ao crescimento do PIB em âmbito mundial. Quanto mais energia um país consome, maior é seu crescimento econômico".

Os painelistas Juan Hartman, diretor geral da comissão nacional de prevenção e segurança nuclear do México e Paulo Carneiro, assessor da diretoria técnica da Eletronuclear, ao falarem sobre o futuro da indústria de energia nuclear, na tarde do dia 18, também falaram sobre a aceitação da opinião pública. Para Hartman, "é preciso acabar com a dificuldade de entender e aceitar a Energia Nuclear".  

O Seminário contou com a participação de empresas de diversas partes do mundo

A participação de empresas internacionais do setor como a americana Westinghouse, as francesas AREVA, ATMEA e EDF, a russa Rosatom e SNERDI, uma subisdiária da SNPTC chinesa, serviu para o público brasileiro conhecer suas expertises, tecnologias e modelos de parcerias que já funcionam em outros países como é o caso da Westinghouse que também é parceira do Brasil desde o projeto Angra 1. Graham Cable, Vice-Presidente de desenvolvimento de negócios da companhia, apresentou diversos aspectos dos negócios nucleares da empresa passando por itens como os altos níveis de segurança desenvolvidos pela empresa bem como tecnologias que se tornaram referência nos projetos de desenho das plantas da companhia. Cable afirmou que a Westinghouse tem hoje 65 plantas de usinas nucleares sendo construídas ao redor do globo em países como a índia, e que a Westinghouse entende que a geração de energia deve ser encarada como uma ferramenta para o crescimento da economia: "A empresa quer continuar a dar suporte ao desenvolvimento da energia nuclear no Brasil".

Valerie Levkov, representante da empresa EDF, líder na área nuclear na França e no Reino Unido, trouxe em sua palestra a experiência francesa para o setor nuclear e além de apresentar tecnologias e soluções em termos de operações e segurança, falou da necessidade e vontade de compartilhar experiências entre projetos das já parceiras AREVA e EDF com o Brasil, através da transferência de conhecimentos com a viabilização de parcerias estratégicas em áreas aonde a França já possui larga experiência como gestão de projetos, gestão de operações, recursos humanos e treinamentos, aceitação pública e modelos de start up e comissionamento. Valerie apontou também a experiência em operações emergenciais e procedimentos adequados na área de segurança nuclear, lembrando também que a alocação correta de riscos é área chave para pleitear financiamentos e reduzir custos. Os riscos políticos e de regulação, os riscos de construção e ainda o risco operacional devem ser levados em conta na construção de futuras usinas, segundo Levkov, que destacou que a EDF e AREVA tem uma operação integrada que desenvolve, entre outras soluções, desenhos para operações de longo prazo e implementações e modelos de engenharia e arquitetura nuclear para terceiros.

 André Salgado, representante da AREVA, apresentou a empresa que tem 40 anos de Brasil na área de energia nuclear, participou da construção de Angra 1 e Angra 2, e já tem parceiros brasileiros como a UFRJ. Um dos destaques da apresentação foi o reator EPR, o maior reator do mercado, desenhado para resistir a eventos excepcionais, já passou por várias certificações e está funcionando em Angra 1 e Angra 2. Segundo o executivo, esta tecnologia pode ter papel decisivo no licenciamento junto a CNEN, que regula o setor. Além disso, Salgado apresentou a joint venture ATMEA, formada pela AREVA e Mitsubishi, fundada em 2007. A AREVA tem 130 plantas construídas pelo mundo. Além disso, ele também enfatizou a expertise francesa e japonesa como ativo importante da empresa que utiliza os feedbacks de seus projetos em novas construções, que tem na modularização um de seus benefícios.

Já na apresentação desenvolvida pelo chinês Wenhui Zhan, um dos pontos levantados foi a questão da segurança nuclear. O diretor do departamento de design de reatores da subsidiária da SNPTC - Instituto de Pesquisa de Engenharia Nuclear e Projetos de Shangai, falou sobre o sistema chinês que desenvolveu um plano de energia nuclear após o acidente de Fukushima que tinha dentre seus objetivos melhorar a capacidade sísmica para acidentes e terremotos. Ainda na área de segurança, Wenhui Zhan apresentou seis testes críticos de instalações de usinas desenvolvidos pela empresa. Além disso, Zhan apresentou os projetos da empresa que tem 26 usinas em operação, 23 sendo construídas e outras 23 plantas em fase de aprovação e seus diversos modelos de usina destacando as estratégias de desenvolvimento e formas de funcionamento de projetos para a área.

A empresa Russa Rosatom também apresentou suas tecnologias, soluções e equipamentos ao público do seminário, destacando seus 70 anos de atuação na área e sua presença mundial. A empresa já construiu 67 unidades ao longo dos anos em que opera e já movimentou 40 bilhões de dólares em negócios e provê soluções integradas de acordo com a regularização do país. A russa Rosatom vem traçando o perfil do cenário nacional na área nuclear há algum tempo e desde o ano passado prepara a instalação de um escritório no Brasil, processo que já está praticamente finalizado, segundo o vice-presidente da Rosatom International Network, Ivan Dybov. O executivo inclusive já estabeleceu residência no País, de onde também coordena as atividades pelo resto da América Latina.

 

O uso da tecnologia nuclear na medicina

O seminário concluiu suas atividades com uma palestra do médico Cláudio Tinoco Mesquita, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, SBMN, que lembrou as dificuldades que a medicina passa para desenvolver o setor, especialmente na região Norte e Nordeste. Mesquita lembrou ainda da dificuldade da área na obtenção de material para a produção de radioisótopos, material usado no diagnóstico e tratamento do câncer, questão pouco divulgada para a mídia e para a sociedade. A última apresentação do dia falou sobre o Reator Multipropósito Brasileiro, construído pela marinha e pela CNEN, na cidade de Aramar, São Paulo e foi preferida pelo Luiz Fernando Conti, representante da CNEN.

Primeira Expo Nuclear

O SIEN 2015 também contou com a realização da I EXPONUCLEAR, também no espaço de convenções da Bolsa do Rio. Empresas participantes expuseram diversas soluções, tecnologias e projetos para a área. A Indústrias Nucleares Brasileiras - INB, apresentou uma maquete do elemento combustível Nuclear. A AREVA apresentou maquetes dos modelos de reatores fabricados pela empresa francesa. A americana Oil States apresentou um equipamento de soldagem de alta tecnologia que pode ser usado pela indústria nuclear bem como por outras indústrias.

O VI SIEN, reuniu cerca de 250 pessoas e aconteceu entre os dias 17 e 18 de Junho. No dia 19, foi realizada uma visita técnica dos participantes do evento à sede da Nuclebrás Equipamentos Pesados - NUCLEP, em Itaguaí no Rio de Janeiro. O SIEN 2015 é realizado pela Planeja e Informa Comunicação e Marketing em parceria com a Casa Viva eventos e tem patrocínio máster da Eletrobrás / Eletronuclear. Na categoria ouro o evento teve o apoio da Russa Rosatom, da chinesa SPTC e de uma parceria formada pelo trio francês AREVA, EDF e ATMEA. Na categoria prata, NUCLEP e Westinghouse firmaram parceria com o projeto.