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Dengue: apesar de números assustadores, SP não gasta verba

Especialistas dizem que estado vive uma grande epidemia da doença

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Na manhã desta segunda-feira (4), o Ministério da Saúde divulgou os números da dengue no primeiro trimestre de 2015. Os resultados são assustadores. No período entre 1° de janeiro e 18 de abril, foram registrados 745,9 mil casos da doença. Esse número representa um aumento de 234% em relação ao mesmo período de 2014. Ao todo, 229 pessoas morreram em decorrência da doença, 45% a mais do que o último ano.

A situação mais preocupante está na Região Sudeste, com 489.636 casos registrados. Desses, 401.564 apenas no estado de São Paulo. Para se ter uma ideia da gravidade da situação, o segundo estado com mais casos registrados foi Goiás, com 63.203.

Segundo dados divulgados pelo Portal Contas Abertas, no plano orçamentário “Coordenação Nacional da Vigilância, Prevenção e Controle da Dengue”, apenas R$ 5 milhões foram gastos em 2014. O valor representa menos da metade dos R$ 10,1 milhões autorizados pelo governo federal para a iniciativa.

Para repercutir os números, o Jornal do Brasil conversou com a doutora em saúde coletiva e professora associada do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBa), Glória Teixeira, que explicou que esse alto número da doença registrado em São Paulo se deve muito à crise hídrica vivida pelo estado no começo do ano.

“Em toda a história, São Paulo nunca teve tantos casos registrados, portanto, no estado existe sim uma epidemia. Com o passar dos anos, o mosquito se adaptou ao ambiente urbano e a cada vez se expande mais facilmente. A epidemia está concentrada na Região Sudeste. Por mais que tratemos o ambiente do mosquito, nossas cidades estão criando inconscientemente possíveis criadores. A crise hídrica, ao contrário do que muitos pensam, piora a situação do mosquito, pois as pessoas armazenam água, e muitas vezes isso é feito de maneira errônea e, consequentemente, isso aumenta a quantidade de criadouros para a fêmea colocar os ovos”, explicou Glória.

Em entrevista coletiva após a divulgação do balanço, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, disse que não existe uma epidemia da doença, e que em relação ao balanço de 2013, o número de registros é bem menor. Ainda segundo o ministro, os números desse ano assustam apenas se comparados aos de 2014, ano que registrou uma boa queda nos casos da doença, 48,6% a menos do que este ano.

Glória Teixeira concorda com o ministro se formos nos basear em âmbito nacional. Isso é demonstrado nos números, a grande discrepância entre os casos registrados em São Paulo e nas demais regiões.

“Se falarmos em âmbito nacional, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, está certo, o país não está vivendo uma epidemia, mas o estado de São Paulo sim. Isso está claro. A dengue é uma doença que tem causado uma dificuldade de controle no mundo todo, não só nos países menos desenvolvidos, mas também em países ricos, como é o caso de Cingapura”, comentou.

>> Número de mortes por dengue sobe 560% este ano no estado de São Paulo

>> Casos de dengue no país aumentam 234% e chegam a 745,9 mil neste ano

O JB também entrou em contato com pesquisador da Abrasco e professor da área de medicina social e do programa de pós-graduação em medicina tropical da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília, Pedro Luiz Tauil, que lembrou das dificuldades encontradas para a guerra contra a doença, da importância do desenvolvimento de uma vacina e de se criar novas formas de combater o mosquito.

“O combate ao Aedes aegypti é muito difícil de ser feito com as armas hoje disponíveis. Além de uma vacina, há necessidade de inovações no combate. Existem três linhas de pesquisa em desenvolvimento: mosquitos transgênicos para reduzir a população dos Aedes silvestres (pesquisa de origem inglesa); mosquitos infectados com uma bactéria (Wolbachia), que não transmitem a doença (pesquisa de origem australiana); mosquitos irradiados por raios gama que tornam os machos estéreis, reduzindo a população de mosquitos. É necessário deixar claro que na ausência de uma vacina eficaz e de um tratamento antiviral, o único elo vulnerável da cadeia de transmissão é o mosquito, portanto o combate a ele é o melhor remédio”, encerrou Tauil.

Sintomas

Diagnosticar a doença com antecedência é fundamental para o sucesso no tratamento. Para isso é preciso conhecer os principais sintomas.

Existem quatro tipos do vírus: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. Ambos os vírus causam os mesmos sintomas. A diferença é que a partir do momento que um paciente pega um dos tipos da doença, ele cria imunidade a ele, ou seja, só se pega Dengue quatro vezes na vida.

Os principais sintomas são: Dor intensa na barriga, sinais de desmaio, náuseas, dor nos olhos, dor nas articulações e febre alta.