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Vacina brasileira contra a tuberculose é referência para a OMS

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A BCG brasileira é a primeira vacina do país considerada referência pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A eficiência da imunização se reflete no risco quase nulo de contágio por tuberculose na infância e na redução de 50% na vida adulta. 

No Dia Mundial de Luta Contra a Tuberculose, é imprescindível atentar não só para os sintomas da doença, como para a importância da vacinação. No Brasil, o número de casos ainda é considerado alto, sendo que o país é 16º com maior incidência de tuberculose, entre os 22 de alta carga. Já o Rio de Janeiro ocupa a vice-liderança em taxa de incidência, com 61,7 casos para 100 mil habitantes, de acordo com dados do Ministério da Saúde, baseados em números de 2013.

“Hoje, a tuberculose enfrenta desafios estruturais, como a desigualdade social, existente em qualquer país e também no Brasil. É fato que vai levar muito tempo para qualquer política pública sanar estes problemas, são questões que se arrastam secularmente”, alerta o pneumologista, Germano Gerhardt Filho, presidente da Fundação Ataulpho de Paiva, única produtora de BCG no Brasil.

De acordo com o diretor científico da instituição, o médico imunologista Luiz Castello Branco, o Programa Nacional de Imunizações alcança quase a totalidade da população brasileira.

O diretor científico da FAP explicou, ainda, que, no início da idade adulta, a BCG não tem o mesmo efeito, porque a resposta do sistema imunológico à vacinação vai diminuindo com a idade. Ainda assim, a probabilidade de um indivíduo contrair tuberculose pulmonar quando adulto reduz em 50% através da imunização.

“Um estudo clássico, realizado na Bavária (Alemanha), no início do século passado, mostrou uma grande incidência de tipos de tuberculose em crianças, sobretudo a meningite (que atinge o sistema nervoso central). Com a introdução da BCG, a doença foi controlada na população com menos de 14 anos. No Brasil, a redução se deu na década de 30, com o início das campanhas de vacinação em massa”, explica Castello Branco.

A BCG brasileira foi estudada por 16 laboratórios certificados pela OMS de 13 países diferentes, representando todos os continentes, e estabelecida como um reagente de referência mundial. O produto é desenvolvido a partir da cepa Moreau RJ, considerada uma das mais imunogênicas e com menor índice de reação, em relação a outras cepas de BCG. O Bacilo de Calmette-Guérin(BCG) tem o objetivo de combater a meningite tuberculosa e formas pulmonares e disseminadas da doença, atuando na prevenção através da ativação do sistema imunológico, o que evita que a bactéria se instale no organismo.

 

Conscientização promoveu redução em até 80% a incidência da doença em Caxias

A conscientização, no entanto, pode reduzir o número de casos de tuberculose e evitar o avanço da doença. Na região de Vila Rosário, em Duque de Caxias, o índice de tuberculose já chegou a 196/100 mil habitantes, mas um projeto conseguiu reduzir para 40/100 mil  – número próximo da média nacional.

Um projeto social patrocinado pela Fundação Ataulpho de Paiva (FAP) em parceria com o Instituto Vila Rosário desenvolve um trabalho para controlar a tuberculose na região de Vila Rosário, no município de Duque de Caxias (RJ), através da busca ativa de casos, de casa em casa, em todas as ruas da área de atuação do programa. O Projeto Sociedade de Química Fina para o Combate a Doenças Tropicais (QTROP-FAP) existe desde o ano 2000 e o resultado deste trabalho tem sido uma queda de quase 80% no índice da doença.

Autor do livro “Tuberculose e Miséria” e diretor-presidente do Instituto Via Rosário, o conselheiro da FAP professor Cláudio Costa Neto explica que a  informação e o acompanhamento foram e ainda são peças fundamentais para o controle da doença na área abrangida pelo programa.

“Quando começamos o trabalho de ‘química fina para o combate às doenças tropicais’, na UFRJ, a tuberculose foi escolhida por um processo de planejamento estratégico, para ser a primeira doença-alvo do programa. No início, pensávamos em atuar apenas na área de fármacos, quem sabe no desenvolvimento de uma de uma nova droga. No entanto, sentimos a necessidade de conhecer o problema da tuberculose numa localidade onde sua presença fosse significativa. Na época, a Baixada Fluminense era a 'capital' da tuberculose no Estado do Rio de Janeiro e, por esta razão, iniciamos o trabalho por lá", conta Claudio Costa Neto.

O projeto conta atualmente com 15 agentes, moradoras da localidade, que visitam residências na busca de sintomas respiratórios e os direcionam para o posto de saúde. No caso de diagnóstico de tuberculose, o tratamento é iniciado e acompanhado pela agente até a cura. Desta forma, o abandono do tratamento é praticamente eliminado o que também contribui para evitar o aparecimento de formas resistentes aos fármacos empregados. Na área da Grande Vila Rosário, são atendidas cerca de 42 mil pessoas. As agentes distribuem informativos sobre tuberculose esclarecendo os sintomas, como evitar o contágio e como proceder em caso de suspeita da doença.