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Vitória da sujeira: higiene em excesso pode prejudicar a saúde dos bebês

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O velho ditado que diz que “todo cuidado com os filhos é pouco” está com os dias contados. Ao menos é o que indica uma pesquisa desenvolvida pelo Hospital Brighman and Womans, nos Estados Unidos, que concluiu que o contato com microorganismos (parasitas e bactérias) nos primeiros anos de vida é fundamental no processo de formação do sistema imunológico dos seres humanos.

O estudo confirma uma teoria médica relativamente antiga que associa o estilo de vida moderno e urbano, além do uso cada vez mais precoce de medicamentos como antibióticos ao aumento da incidência de transtornos alérgicos, asma e de doenças autoimonunes na população em geral. O trabalho, conduzido por Richard Blumberg, chefe da Divisão de Gastroenterologia, Hepatologia e Endoscopia do hospital americano foi publicado na última edição da revista Science.

E a explicação para isso está nos linfócitos T, uma das células responsáveis pela defesa do corpo. “Uma vez que não são expostos ao trabalho, sentem-se à vontade para reagir de forma exacerbada a determinados estímulos, como o consumo de alguns tipos de alimento”, exemplifica a neonatologista Nicole Gianini, diretora-clínica do Centro de Tratamento Intensivo da Casa de Saúde Santa Lúcia, no Rio de Janeiro.

É claro que não se trata de uma apologia à sujeira. Pelo contrário. Está mais do que provado que os cuidados com a higiene são essências na prevenção de infecções por bactérias, como salmonelas e estafilococos, e outros patógenos. O grande problema está no exagero, fruto de uma preocupação irracional, mais comum em mães de primeira viagem.

“Tentamos dar uma luz, falar que não é preciso esterilizar tudo o que a criança irá tocar, mas nem sempre conseguimos. Houve o caso extremo de uma mãe que, a despeito de todas as informações que passávamos, insistia em comprar água mineral e fervê-la antes de dar banho no filho”, relata a médica.

E se o segundo filho é recebido de forma mais tranquila por causa da experiência, o convívio com o primogênito ainda o ajuda a desenvolver o seu sistema imunológico. Isto porque o mais velho o coloca em contato precoce com uma série de microorganismos aos quais já foi exposto. "Têm as doenças, sem necessariamente apresentar os sintomas, e criam anticorpos contra elas. Quando entram no colégio, por exemplo, tendem a apresentar menos problemas", diz Gianini, que também destaca os benefícios do parto normal para a saúde das crianças. "Há estudos que indicam que as bactérias presentes na vagina da mãe ajudam significativamente no desenvolvimento do sistema de defesa da criança", sintetiza.