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Adolescentes brasileiros têm fácil acesso ao cigarro, diz Inca

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Os adolescentes brasileiros não têm dificuldade para comprar cigarro, apesar de o país dispor da Lei Federal (n.º 8.069/1990 ) que proíbe a venda do produto para menores de idade. O percentual de meninas, entre 13 e 15 anos, que já comprou cigarro chega a 52,6% e a 48,1% entre meninos em algumas capitais do país.

Esses e outros dados estão reunidos na publicação A situação do tabagismo no Brasil, que o Instituto Nacional de Câncer Jose Alencar Gomes da Silva (Inca) lança para celebrar o Dia Nacional de Combate ao Fumo. O livro reúne dados de pesquisas do Sistema Internacional de Vigilância do Tabagismo da Organização Mundial da Saúde realizadas no Brasil, entre 2002 e 2009.

A preocupação com os jovens é especial, em razão de eles serem o principal alvo da indústria do tabaco, interessada em atrair novos consumidores. As leis visam reduzir o acesso das crianças e adolescentes ao cigarro, porém é grande o número de jovens entre 13 e 15 que experimentam o produto. A maioria dos menores entrevistados afirmou nunca ter sido impedida de comprar um cigarro. Em Maceió, esse percentual chegou a 96,7%. Em Fortaleza, a 89,9% e em Salvador a 88,9%. 

Outra informação preocupante, segundo os profissionais de saúde, é que o tabagismo entre os adolescentes não tem diminuído como vem ocorrendo entre os adultos. 

 A gerente da Divisão de Epidemiologia do INCA, Liz de Almeida, revela que a principal forma de aquisição do cigarro, pelos jovens, é por unidade, apesar da existência de uma lei que proíbe esta modalidade de venda. Em Maceió (2003), apenas 7,8% dos fumantes entre 13 e 15 anos compram o cigarro em maço. O índice em São Luís fica em 17,7% (2006). A maior parte da venda de cigarros por unidade é feita em estabelecimentos legalizados, como bancas de jornal, bares, botequins, mercadinhos, mercearias, padarias e lanchonetes.

“A iniciação precoce ao tabagismo pode aumentar em quase o dobro o risco de danos à saúde. Quanto mais cedo se estabelece a dependência à nicotina maior o risco de morte prematura”, afirma o pneumologista da Divisão de Controle do Tabagismo do INCA, Ricardo Meirelles.

A secretária executiva da Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CONICQ), Tânia Cavalcante, afirma que a iniciação se dá basicamente até os 19 anos e que os aditivos com sabores atraentes, como cereja, canela ou chocolate, fazem com que o gosto do cigarro seja ainda mais sedutor para os jovens.

“Nos últimos anos, a indústria introduziu uma ampla gama de aromas e sabores com a intenção de tornar o gosto do cigarro mais agradável. Além de mascarar o gosto ruim, a irritação e a tosse que a fumaça do cigarro provoca, os aditivos facilitam o desenvolvimento da dependência à nicotina”, afirma  Tânia.

 

Escolaridade e sexo

O percentual de pessoas que começaram a fumar com menos de 20 anos é de 77,9%. A pesquisa revela que a baixa escolaridade influencia em relação ao início do hábito de fumar: quanto menos anos de escolaridade mais cedo a pessoa se torna fumante. Entre pessoas sem instrução ou com menos de um ano de escolaridade, mais de 40% começaram a fumar antes dos 15 anos. 

Em contrapartida, jovens que estudaram entre oito e dez anos e começaram a fumar antes dos 15 anos o percentual é de apenas 18%; e com 11 anos ou mais de escolaridade, 12,9%.

O diretor-geral do Inca, Luiz Antonio Santini, aponta outro dado relevante do estudo: em algumas capitais, as meninas estão experimentando mais cigarro  do que os meninos. “Ao contrário do pensamento popular, nem sempre os meninos fumam mais cedo do que as meninas. A variação do percentual de experimentação entre 13 e 15 anos, entre meninos e meninas, surpreende em algumas cidades”, diz.

A maior variação foi em Porto Alegre (2002) onde 52,6% das meninas já fumaram pelo menos uma vez nesta faixa etária, contra 38% dos meninos. Em Curitiba (2005), enquanto 46,9% das meninas já experimentaram cigarro, o mesmo foi feito por 35,7% dos meninos. Em São Paulo (2009), 38% das meninas já experimentaram e apenas 29,7% dos meninos. No Rio (2005), 36,5% das meninas já tentaram; entre os meninos o percentual foi de 29,5%.