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Remédio para enxaqueca pode causar glaucoma, diz médico

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No Brasil, cerca de 34 milhões de pessoas sofrem com a enxaqueca. Ao mesmo tempo, a estimativa da Sociedade Brasileira de Cefaléia (SBCe)  é de que só 1,7 milhão fazem tratamento preventivo. Entre os medicamentos mais prescritos no Brasil para prevenir as crises de dor está o topiramato, antiepiléptico também indicado para transtorno bipolar. Isso porque, segundo a comunidade médica, além de diminuir em 50% a frequência da enxaqueca, pode ajudar a perder peso, o que facilita a adesão dos pacientes ao tratamento. Em um país como o Brasil que tem mais da metade da população com sobrepeso, a droga parece ser um "santo remédio". 

O problema é que a pílula mágica pode causar glaucoma, doença ocular que é a primeira causa de cegueira irreversível. De acordo com o oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz Neto, o medicamento pode provocar miopia aguda e glaucoma secundário de ângulo fechado. A doença, comenta, causa o dobro de cegueira definitiva que o glaucoma de ângulo aberto, embora tenha incidência menor. Mas, como tem causa conhecida pode ser evitada. Embora este efeito colateral sobre os olhos não seja muito comum, ele diz que já atendeu uma paciente que com menos de um mês de uso da droga chegou à consulta com a visão embaçada e forte dor nos olhos. A substituição do topiramato por um novo tratamento para enxaqueca e uso de colírios antiglaucomatosos permitiu a completa recuperação da visão em dois meses, afirmou.

Mesmo assim, o especialista acrescenta que a medicação para enxaqueca não é imprópria para todos. Em muitos casos, é possível prevenir o risco de contrair glaucoma usando colírios apropriados antes de surgir qualquer alteração ocular. Para quem já usa o remédio a recomendação é passar por consulta com  um oftalmologista, mesmo que não sinta qualquer desconforto. O glaucoma só apresenta sintomas quando se trata de uma crise aguda de ângulo fechado que em muitos casos pode levar à cegueira instantânea.

Mulheres são mais vulneráveis

O especialista destaca que um relatório do órgão de vigilância sanitária americano, Food and Drug Administration (FDA, na sigla em inglês), baseado em 49 pessoas que tiveram glaucoma de ângulo fechado após terapia com topiramato, mostra que a mulher tem mais facilidade para contrair a doença. No grupo representou 68,52% dos casos contra 31.48% de homens. Ele explica que isso acontece porque, na população feminina, a câmara anterior é mais estreita. 

Pelo mesmo motivo quem tem hipermetropia (dificuldade de enxergar de perto) forma outro grupo de risco para contrair a doença.  Isso porque, o topiramato provoca edema no cristalino e corpo ciliar, diminuindo ainda mais o ângulo da câmara anterior. Este estreitamento predispõe ao aumento da pressão interna do olho, principal fator de risco para contrair glaucoma.

Interações perigosas

Queiroz Neto diz que algumas interações medicamentosas potencializam o gatilho para contrair a doença. As principais são: corticóides, medicamentos para hipertensão e diabetes.

O especialista explica que o efeito dos remédios para diabetes e hipertensão é menor quando são usados com a medicação para enxaqueca. As doenças mal controladas aumentam o risco de contrair glaucoma neovascular, tipo que mais leva à cegueira. Já os corticóides contribuem com o maior aumento da pressão intraocular e por isso podem antecipar a doença, especialmente se forem usados na forma de colírio.