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Brasil tem maior volume de algas calcárias do mundo

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Vinicius Zepeda *, Jornal do Brasil

RIO - As algas calcárias são plantas marinhas impregnadas de carbonato de cálcio presentes em todos os oceanos desde zonas entre marés, área da costa sujeita à influência do fluxo e refluxo das marés, até grandes profundidades, que podem alcançar 280 metros. Estes organismos, ao lado dos corais, são os principais responsáveis pela construção de recifes naturais. Juntos, formam as maiores construções vivas do planeta, fornecendo hábitat para vários seres marinhos. Mas esta riqueza está ameaçada.

Pouco sabemos sobre a diversidade das espécies existentes, e a retirada delas é feita visando apenas ao interesse econômico, sem se importar com o equilíbrio ambiental alerta bióloga Márcia Figueiredo Creed, coordenadora da pesquisa Paradigma sobre a conservação e o uso sustentável de bancos de algas calcárias .

Márcia Figueiredo Creed, que se preocupa há anos com a exploração desses recursos naturais do litoral brasileiro, lembra que a alga calcária é a única planta marinha que consegue sobreviver em locais profundos nos oceanos, ocorrendo em bancos desde a costa do Maranhão até o litoral do Norte Fluminense. Alguns estudos já colocaram o Brasil como o detentor do maior depósito de algas calcárias do planeta.

Dois recifes formados por algas calcárias já contam com a proteção ambiental da legislação brasileira: o Parque Marinho de Abrolhos, no sul da Bahia, e o Atol das Rocas, próximo ao arquipélago de Fernando de Noronha.

Apesar de ocuparem menos de 1% do fundo dos oceanos, os recifes e bancos de algas calcárias servem como lar ou recurso vital para 25% a 33% das criaturas do mar. Vários estudos sobre a viabilidade do uso sustentável das algas calcárias já utilizadas na calagem de solos ou como suplemento alimentar natural para prevenir a falta de cálcio surgiram nas últimas décadas.

De acordo com a bióloga, o uso do calcário marinho como suplemento alimentar contra a osteoporose ainda é pouco difundido no país, apesar dos custos relativamente baixos de sua produção.

Há uma indústria no sul do Espírito Santo que desenvolve um suplemento, que possui 22,5% das necessidades diárias de cálcio, concentração bem maior que as encontradas em similares naturais, e que também contem ômega-3, proveniente da fauna associada explica.

Com relação ao emprego do calcário das algas na fertilização de solos, Márcia afirma que já estão comprovadas as suas vantagens se comparadas àquelas do calcário terrestre ainda hoje o mais utilizado na agricultura.

A textura do talo das algas calcárias cria hábitat para toda uma fauna de pequenas bactérias que não existiriam no calcário terrestre, e que servem para decompor a matéria orgânica e aumentar a porosidade dos solos diz. A coleta em mares profundos seria uma das soluções.

Diversidade

Para Márcia, ainda há poucas ações para a preservação dos bancos de algas calcárias, mesmo em face do aumento da extração do calcário e a exploração de petróleo nesses bancos.

Muitas vezes, estas algas são arrastadas até a beira de praias. De lá, são retiradas indiscriminadamente por pessoas que ignoram a importância delas para a conservação da diversidade na natureza relata.

Ela acredita que uma das soluções para aliar o equilíbrio ambiental com a exploração do potencial econômico dessas plantas seria a coleta delas em áreas mais distantes da costa, em águas profundas.

Ali, o solo tem menos nutrientes, a fauna e a flora são mais pobres e o impacto ambiental seria indiscutivelmente menor avalia.

Para Márcia, a pesquisa está sendo muito útil para identificar as espécies de algas calcárias existentes no país e também para aferir a taxa de reprodução e de crescimento dos depósitos onde elas se encontram. A bióloga diz que ainda há poucos pesquisadores estudando o assunto e não só no Brasil, mas também no exterior.

Por isso, o objetivo de nossa pesquisa também é o de formar novos estudiosos e especialistas para que possamos avançar nas pesquisas sobre o tema conclui.

O trabalho desenvolvido sob a coordenação da pesquisadora foi subdividido para dar mais agilidade à pesquisa, e seus resultados finais devem ser apresentados no início de 2010.

* Faperj