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Glaziou, o botânico francês que mudou a paisagem do Rio

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Luísa Côrtes, JB Online

RIO DE JANEIRO - Paisagista, cientista botânico, apreciador da natureza, com noções de engenharia e profundo bom gosto. Este era Auguste François-Marie Glaziou. Um dos principais responsáveis pelo surgimento dos jardins públicos no Rio e pela valorização da flora tropical. Apesar da grande importância, a figura de Glaziou é pouco lembrada pelos brasileiros. Para corrigir esta injustiça, o Jardim Botânico abre suas portas para uma exposição em homenagem ao francês que dedicou parte de sua vida ao Brasil, no Museu do Meio Ambiente, como parte das comemorações do Ano da França no país.

Após estudar engenharia civil, botânica, e aprofundar seus conhecimentos em agricultura e horticultura, Glaziou foi convidado pelo Imperador Dom Pedro II para vir ao Brasil coordenar a Diretoria de Parques e Jardins da Casa Imperial, no Rio, em 1858. A missão se estendeu. Logo, o botânico francês acumulou a função de Inspetor dos Jardins Municipais. Assim, permaneceu em terras brasileiras até 1897. Neste período foi responsável pela reformulação do Passeio Público e pelos projetos dos jardins da Quinta da Boa Vista e do Campo de Santana, entre outras obras.

Ele se apaixonou pela floresta tropical. E o Brasil também se apaixonou por ele. O Rio deve toda a área verde a ele. Glaziou tinha uma grande consciência sobre botânica e paisagismo, ele era um grande conhecedor da natureza. Temos que resgatar a glória e a contribuição imperecível do Glaziou diz o presidente do Jardim Botânico, Liszt Vieira.

Expedições

Para conhecer as espécies tropicais que nunca tinha visto na Europa, Glaziou iniciou diversas expedições pelo Brasil, principalmente pelos estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Nestes passeios, Auguste coletou amostras de diversas plantas. Hoje, a quantidade de espécies diferentes que ele chegou a recolher é estimada em mais de 20 mil.

Até hoje ele é considerado um dos maiores coletores de espécies da história. Muitas espécies colhidas por ele eram novas, cerca de mil. Outras plantas ele recolheu, mas não chegou a descrever como novidade. Assim, as pessoas que, mais tarde, perceberam que a espécie ainda não era conhecida o homenagearam. E passam de 600 as espécies que trazem no nome a marca de Glaziou estima a pesquisadora em botânica Rafaela Forzza.

Todas as espécies encontradas por Glaziou sobrevivem ao tempo. As plantas vivas são guardadas em herbários e transformaram-se em uma amostra desidratada mantida em uma temperatura de 18°C, chamadas de exsicatas.

É uma biblioteca de plantas, de valores inestimáveis, insubstituíveis. Permanece viva através dos séculos. Até a letra original de Glaziou na identificação das espécies é mantida. Uma verdadeira obra de arte vibra Rafaela.

Muitas destas espécies reconhecidas pelo botânico estão no Brasil e na França, já que ele costumava pegar mais de um galho da mesma planta. Grande parte destas exsicatas vai fazer parte da exposição no Jardim Botânico.

Passeio virtual

Além de ver estas relíquias das espécies descobertas por Glaziou, os visitantes vão ter a chance de fazer um passeio virtual, em uma sala com filmagens projetadas em 180 graus, pela Quinta da Boa Vista, pelo Campo de Santana e pelo Passeio Público, considerado o primeiro jardim compartilhado da cidade do Rio.

Quando o Glaziou chegou ao Brasil, ele já tinha passado pela reforma do Jardim Público da cidade de Bordeaux, na França. Com a Revolução Industrial, houve um grande crescimento da população. E na Europa tornou-se comum os jardins particulares tornarem-se públicos, muitas vezes por falta de espaço. Então, Glaziou trouxe essa experiência para cá, essa novidade dos jardins compartilhados e ao ar livre. Mas ele começou a utilizar a própria vegetação brasileira, as árvores com flores, os chamados jardins sinuosos aponta a curadora da exposição Anna Paula Martins.

Anna acredita que o ensinamento de Glaziou foi absorvido por muitos botânicos e paisagistas, como Burle Marx. Porém, diferentemente de Burle Marx, o francês não teve até hoje o reconhecimento necessário.

Ao contrário de muitos que prezam pela descrição e descoberta das plantas, Glaziou priorizava a ação. E ele dominou com sensibilidade a composição da paisagem externa, da natureza representada, além de descobrir e recolher milhares de plantas completa Anna Paula.