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Mangueira, Portela e Salgueiro sacodem a Sapucaí no segundo dia de desfile

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No segundo dia de desfiles do Grupo Especia, nesta segunda-feira (8), na Marquês de Sapucaí, Mangueira, Portela e Salgueiro emocionaram e fizeram o público ir à loucura nas arquibancadas

Mangueira fez uma homenagem à cantora Maria Bethânia, Portela fez uma viagem pelo fantástico e Salgueiro celebrou a malandragem na avenida.

Apesar da emoção, o Salgueiro apresentou falhas técnicas. Luzes do seu abre-alas se apagaram. Mangueira também teve problemas no quinto carro com lâmpadas desligadas. 

Veja as imagens dos desfiles

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Vila Isabel

 A Vila Isabel foi a primeira a desfilar, com uma homenagem ao político Miguel Arraes (1916-2005). Símbolos de Pernambuco e da cultura do estado estiveram presentes, como a caatinga, a literatura de cordel e a arte no barro. Sabrina Sato desfilou como rainha da bateria. O samba-enredo levantou os ocupantes da avenida, que acompanhavam o desempenho da escola. Faltando dois setores para o fim da pista de desfile, o intérprete do samba-enredo da Vila Isabel parou de cantar e pediu para o público entoar o samba, e a reposta veio de imediato, com um canto forte.

O compositor Martinho da Vila, que além de ter proposto o enredo é um dos autores do samba, acompanhou emocionado a chegada das alas e das alegorias na dispersão da escola. "É uma emoção muito grande. Dá uma sensação de missão cumprida. Foi uma beleza", disse.

Bira do Banjo, que há 20 anos pertence à ala de compositores da Vila Isabel, não aguentou e caiu em prantos no fim do desfile "Eu sou nascido na Vila Isabel. A gente passa por uma série de problemas e a Vila está aí, e quem é sabe! Então, ver a escola passar assim é empolgante. Como compositor eu tenho uma história, e quando você vê os amigos, todo mundo unido, desculpe, a gente chora", contou.

Bira disse que quando entrou para a Vila era empurrador de carros, depois passou para a bateria e harmonia da escola.

Também sem conter a emoção estava o presidente da escola, Luciano Ferreira, que explicou o motivo do envolvimento dos componentes da escola, que contribuiu para o desfile. "Eu tenho uma caminhada aguerrida, só isso que posso dizer", completou, chorando.

O presidente disse ainda que o enredo se encaixou bem no estilo da escola. "Tinha tudo a ver com o momento da escola, a comunidade abraçou o enredo. Os componentes nos nossos ensaios mostravam a cada dia um canto melhor. Eu acreditei neles e vou sempre acreditar na minha comunidade", concluiu.

Salgueiro

A escola levou a malandragem para a Sapucaí, e emocionou o público com um forte refrão. A escola mostrou o universo dos cabarés, botequins e personagens das ruas e da noite do Rio de Janeiro. Um zepelim com cerca de 20 metros sobrevoou a avenida.

Logo que o samba enredo da escola começou a ser tocado na Marquês de Sapucaí, o público, em todos os setores do Sambódromo, acompanhou com uma vibração contagiante. Era um sinal do ritmo forte que a segunda escola da noite de segunda-feira (8) imprimiria na avenida para apresentar o enredo A Ópera dos Malandros, desenvolvido pelos carnavalescos Renato e Márcia Lage. “O que eles fizeram na bateria foi show de bola”, disse o mestre Marão, sobre a Furiosa, como é chamada a bateria do Salgueiro.

As alegorias extensas e pesadas não impediram que a escola evoluísse no tempo sem atropelos. Vários tipos de malandro passaram pela avenida em um desfile marcado pela alegria dos componentes.

A tia Taninha, do Caxambu, no Morro do Salgueiro, foi passista, ritmista e agora está na Velha Guarda. Ela disse que o samba mexeu com os componentes. “Que beleza, muito bom. Dá uma emoção danada, não tem explicação”, disse, avaliando a possibilidade da escola conquistar o título de campeã. “Vamos ver, quem sabe é jurado! Estamos na briga. Senti que a escola veio bem e a comunidade gostou do samba, foi apoiado”.

Apesar do bom desfile, o abre-alas da escola teve um problema de iluminação durante o desfile, mas pouco depois ao normal.

São Clemente

A escola teve como enredo os palhaços. A carnavalesca Rosa Magalhães abusou das cores e das brincadeiras. Contudo, a escola  teve problemas com carros, o que pode custar pontos. A rainha Raphaela Gomes levou um tombo na avenida.

O carro O Grande Circo e o Respeitável Público emperrou diante do setor 7 e foi preciso ter o auxílio da ala da força com cerca de 12 empurradores para que se movimentasse. Mas o público aplaudiu. “A gente se juntou para dar uma força e empurrar para engrenar”, disse Agnaldo Gonçalves, que é da ala da força da São Clemente.

O desfile foi descontraído e seguindo exatamente o enredo Mais de Mil Palhaços no Salão. “Mais uma escola cantando o circo nesta grande ópera popular. Viva o circo! Estou muito feliz. Parece que tudo valeu a pena. 30 anos de entrega voluntária, de amor, doação para um segmento que é o circo. Hoje vê-lo cantado dessa forma tudo valeu a pena”, disse o ator Marcos Frota, que tem um circo e desenvolve projetos de arte circense. No grupo da Série A, ele tinha desfilado na sexta-feira com a Porto da Pedra, em homenagem ao palhaço Carequinha.

A carnavalesca Rosa Magalhães veio sentada em uma das alegorias, que representava o Castelo dos Bobos e a Carroça dos Saltimbancos. É um costume de Rosa vir misturada a outros componentes em alegorias.

No final da escola ela transformou a avenida em um panelaço. Duas alas vieram com panelas e tampas nas mãos e os palhaços se manifestavam, tocando no ritmo do samba. O carro que veio logo atrás estava todo decorado nas laterais com panelas de diversos tamanhos e se chamava Manifesto do Palhaço.

Portela

O carnavalesco Paulo Barros fez sua estreia na escola com um enredo sobre viagens. A Portela encantou, com um desfile cheio de surpresas: um Poseidon flutuou com uma prancha e jatos de água. O carro das viagens de Gulliver foi outro ponto alto. Um boneco de quinze metros do ator Jack Black, que interpretou o papel do gigante, foi escalado por componentes da escola. Além disso, havia um carro com dinossauros que engoliam foliões.

A viagem da águia, símbolo da escola, pela humanidade, garantiu o destaque de ter sido considerada, junto com o Salgueiro e a Mangueira, como as melhores apresentações do segundo dia do Grupo Especial.

Para contar o enredo No voo da águia, uma viagem sem fim, o carnavalesco Paulo Barros modernizou a escola e agradou os integrantes da Velha Guarda, pelo respeito à tradição da azul e branco. “Ele não fugiu à tradição e fez um trabalho maravilhoso”, indicou Tia Surica desfilou no chão antes da comissão de frente. “Eu fiquei muito emocionada, mas pela minha escola faço qualquer coisa”.

A comissão de frente, como já é uma das marcas dos desfiles de Paulo Barros, causou forte impacto no público. Ela representava a Odisseia de Homero. Os integrantes, que são bailarinos, tiveram que se movimentar muito. Eles subiam em uma alegoria onde estava o atleta de flyboard Cláudio Matos, vestido de Poseidon, deus da mitologia grega. O equipamento usado por ele permitiu ser elevado com jatos de água a uma altura de até de 30 metros e ficar parado no ar. Toda vez que isso acontecia ao longo do desfile, o público vibrava.

Por causa dos movimentos rígidos, necessários para realizar a coreografia, os integrantes da comissão tiveram o auxílio nos ensaios do fisioterapeuta Vitor Pessanha e do preparador físico Jalber Rodrigues. “É uma coreografia inusitada e tem muito esforço físico. Além de trabalhar a parte física a gente trabalhou a eficiência mecânica e isso foi bem legal para o resultado final”, contou Jalber.

O fisioterapeuta confeccionou uma bota especial para cada integrante para amenizar possíveis lesões de tornozelo, já que os bailarinos desciam de uma parte muito alta da alegoria. Momentos antes do desfiles eles fizeram um trabalho com os bailarinos.

“Na concentração foi feito um trabalho de massagem para deixar a musculatura bem solta para eles realizarem os movimentos na avenida. Com o Jalber, eles fizeram um trabalho para a musculatura chegar ativada para dar tudo certo e graças a Deus conseguimos”, disse Vitor. Os dois nunca tinham feito trabalhos para escolas de samba.

Imperatriz

A escola homenageou a dupla Zezé Di Camargo e Luciano e a música sertaneja. No samba os versos "É o amor" e "Sou brasileiro, caipira Pirapora" foram entoados com acordes de sanfona. A Imperatriz também foi uma a empolgar o público. A dupla sertaneja estava no último carro. Na frente da alegoria estava seu Francisco, o pai da dupla, que incentivou a carreira deles. E foi preciso usar um guindaste para colocá-lo na poltrona reservada para ele na alegoria, para evitar que se cansasse durante o desfile. Mas seu Francisco não teve medo e seguiu as orientações da equipe de segurança. A tranquilidade dele ficou evidente quando o carro dobrou a esquina na Avenida Presidente Vargas para a Marquês de Sapucaí. Logo se levantou e ficou acenando com um chapéu de palha para o público. Os filhos vieram na parte mais alta do carro. Zezé, de verde, e Luciano, de branco, as cores da escola da zona norte do Rio.

Mangueira

Mangueira fechou os desfiles com uma homenagem à cantora Maria Bethânia. A escola celebrou os 50 anos de carreira da baiana com um desfile de luxo e sofisticação. Muitos artistas participaram. O enredo Maria Bethânia- a menina dos olhos de Oyá permitiu uma Mangueira diferente dos últimos anos.

“Tinha pouco ferro, não tinha muito esplendor. Acho que foi um desfile com visual moderno. Tem um visual diferente, mais leve. Para a Mangueira foi diferente e fico feliz deles terem gostado para caramba”, disse o carnavalesco Leandro Vieira, na dispersão da Marquês de Sapucaí, que durante o desfile comentou que o dengo da baiana estava "dando certíssimo". O dengo da baiana é uma parte da letra do samba-enredo.

O ministro da Cultura, Juca Ferreira, que é mangueirense, entrou na avenida à frente da escola. Ele disse que o enredo da Mangueira permitiu ainda um apoio à negação à intolerância religiosa. Juca Ferreira destacou também que a carreira de Bethânia é marcada pela valorização da música brasileira e resgate da cultura popular. “Bethânia é uma das grandes artistas do Brasil e seu canto está muito vinculado à cultura popular brasileira. O resgate, a defesa e o canto. Ela expressa o que de há de melhor no Brasil em termos culturais”, disse.

A Mangueira também tinha uma alegoria intitulada Abelha Rainha, mas era uma relação de como a cantora é chamada após ter gravado a música Mel. Neste carro vieram vários amigos da cantora como as também cantoras Ana Carolina, Adriana Calcanhoto e Zélia Duncan, o compositor Moacyr Luz, e a diretora de teatro Bia Lessa, que já dirigiu vários espetáculos de Bethânia.

No fim do desfile, Maria Bethânia, emocionada, acenou para o público das arquibancadas populares da Praça da Apoteose. Ela desfilou no último carro, chamado de Céu de Lona Verde e Rosa, ao lado das afilhadas Nina e Júlia, de 12 anos, e enquanto dava um abraço nelas ouviu o público consagrando a escola com o grito de é campeã.

Com Agência Brasil