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Inocentes de Belford Roxo promete mostrar na Sapucaí o lado moderno da Coreia

Escola estreia no Grupo de Especial no domingo de Carnaval

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“O público pode esperar um novo olhar sobre a Coreia", definiu o carnavalesco Wagner Gonçalves ao falar sobre o desfile da Inocentes de Belford Roxo, que estreia no Grupo Especial no domingo de Carnaval. Wagner antecipa que, apesar do tema remeter a tradições milenares, o desfile vai explorar a modernidade, saindo do lugar comum. "Já tivemos carnavais do Japão e da China e todos acreditam que, por serem temas tradicionais, têm de ser históricos, mas vamos falar de uma Coreia totalmente moderna. Usaremos tons cítricos e cores mais abertas, obviamente, respeitando a sua cultura. Esta é nossa grande aposta: trazer uma cara inusitada à Coreia, em lugar do conceito que todos esperam. Acho que criamos outra coisa aí”.

Mais nova entre as doze escolas do Grupo Especial, com 19 anos de fundação, a Inocentes de Belford Roxo desfila às 21 horas do próximo domingo (10), com o enredo As Sete Confluências do Rio Han, que fala dos 50 anos de imigração coreana no Brasil. A ideia é explorar uma "história abstrata", que, segundo Wagner, não possui “início, meio e fim linear”.

“O Rio Han para a Coreia do Sul é como o São Francisco para nós. É muito emblemático e foi cenário de filmes e novelas. Cada confluência será um setor da escola, que trabalha a imigração e a troca cultural entre Brasil e Coreia do Sul. Isso me deu mais liberdade e mais trabalho também. Quando comecei a pesquisar o país, não conhecia nada. Depois, percebi que o enredo era muito rico, com muitos elementos para retratar. Vi que se eu não catalogasse isso em números, ficaria complicado e iríamos dispersar demais”, explica o carnavalesco.

Animais serão simbólicos no desfile

A presença de animais nos carros alegóricos será expressiva na Inocentes de Belford Roxo, como explicou Wagner, que informou ao Jornal do Brasil que os carros têm gerado “bom impacto” a quem visita o barracão.  “Quem vem ao barracão gosta e é esse efeito que a gente quer provocar na avenida”, afirmou.

Um dos dados da pesquisa para a criação do enredo da escola foi o calendário lunar dos orientais, que contém 12 animais, como a cobra e o dragão. “Acredito que o simbolismo usado no carro fará um bom jogo com a plateia. Além disso, representa a Coreia, que é um dos tigres asiáticos, e o dragão também possui grande relação com os países. Estes foram elementos que cataloguei e vi que dava pra carnavalizar”, disse ele.

Dificuldades inesperadas e responsabilidade dobrada

A escola teve problemas ao longo da preparação do seu desfile. A Associação Brasileira dos Coreanos fez uma parceria com a Inocentes de Belford Roxo, assinando até uma carta de intenção em 16 de junho de 2012. Por meio da Lei Rouanet, era possível captar R$ 2,8 milhões. Porém, a ajuda não veio, a instituição não se pronunciou e a agremiação optou por desfazer o acordo em  dezembro do ano passado.

Nem por isso a Inocentes se deixou abater, e se preparou para fazer um belo desfile em 2013. O atual casal de mestre-sala e porta-bandeira da escola, Rogerinho e Lucinha Nobre - dispensados pela Portela em 30 de agosto de 2012 - foram contratados pela Inocentes.

“As escolas que sobem têm a desvantagem de precisar se estruturar e competir com outras que funcionam há mais de 30 anos, às vezes, com mais números de títulos do que uma nova escola tem de tempo de fundação. Para nós, agora é um período de estruturação e de crescimento. Sabemos que nenhuma escola cresce da noite para o dia”, destaca Wagner.

Conforme relatou o carnavalesco, o fato de ser a primeira escola a desfilar na Sapucaí, antes de tradicionais escolas, também aumentou a ansiedade e o estímulo dos componentes.

“Nossa responsabilidade cresceu quando no sorteio caíram Salgueiro e Unidos da Tijuca depois da gente. Ou seja, a vice-campeã e a campeã de 2012. A Inocentes de Belford Roxo se sente na obrigação de começar bem, porque, do contrário, numa comparação direta, as pessoas podem interpretar que o Salgueiro e a Tijuca vieram quentes e a Inocentes só passou”, constatou, acrescentando: “O sorteio nos empolgou, mas nós temos o pé no chão. Temos que respeitar o Salgueiro pela sua competência administrativa e pela história no Carnaval e a Tijuca também, que mostra uma história recente e bonita que vem se desenhando. Porém, a Inocentes também está chegando. Nós aumentamos o tamanho dos carros, estamos caprichando e nos empenhando para manter, pelo menos, o padrão das escolas que vão desfilar”, ressalta.

Carros, estrutura e estilo 

Criada no dia 11 de julho de 1993, a escola já foi três vezes campeã no Grupo A: em 1998, 2008 e 2012. Esta última, com o enredo Corumbá – Ópera Tupi Guaikuru. Para Wagner Gonçalves, a escola não tem a tradição em seu estilo. “Tem até a velha guarda, mas não há um comprometimento de respeitar algumas tradições. A escola pode investir mais na modernidade. Este é o caminho que tentamos afinar e tem dado certo”, diz.

Ao todo, no desfile serão apresentadas 27 alas e sete alegorias, distribuídas entre os 4.200 componentes. De acordo com o carnavalesco da Inocentes, o tamanho mínimo de um dos carros será de 16 metros. “Trata-se de um carro com somente um chassi, mas terá acoplamento. Os carros são grandes. Será um carnaval grandioso. Nós decidimos aumentar os carros e deixar as alas mais leves”, adiantou Wagner.

Wagner reforça a identificação entre seu estilo e a escola, e aposta na continuidade. “Quando um artista se casa com uma escola e cria identidade, os estilos acabam se misturando. Você absorve o jeito da escola e a escola, por sua vez, aplica a sua cara. Nossa tentativa é de que ela tenha uma cara moderna, mas não sei bem se é esse o melhor termo para se afirmar ou se é pretensioso demais. Mas entendo que por ser uma escola jovem, é necessário que se traga uma estética também jovem. É ainda um compromisso nosso o de agregar a juventude”, conclui.

* Do Projeto de Estágio do Jornal do Brasil