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Turistas abastados não são mais o filão do faturamento do Carnaval no Rio

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Foi-se o tempo em que o filão do Carnaval carioca, em termos de faturamento, eram os turistas estrangeiros, especialmente os mais abastados, que vinham de grandes centros da Europa e Estados Unidos para lotar hotéis cinco estrelas na Orla da Zona Sul. Com muito menos luxo e diárias mais em conta, são os albergues a principal opção dos estrangeiros, mostrando que o folião que vem de fora talvez não tenha mais uma participação tão importante na economia da Festa de Momo na cidade. A consequência pode ser uma queda na arrecadação da cidade em comparação com outros anos, apesar de os investimentos feitos pelo Rio para o Carnaval continuarem altos.

Além da provável diminuição de gastos em dólar por causa da mudança do perfil do visitante estrangeiro, o número de foliões que vêm de outros países para o Rio também é reduzido no Carnaval 2012, em proporção á quantidade de brasileiros. Dados da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviço previam que, este ano, cerca de 850 mil turistas visitariam a Cidade Maravilhosa, uma expectativa superior a 2011, quando se esperava 756 mil foliões vindos de fora da cidade. No entanto, a maioria dos visitantes não vêm de outros países.

Segundo o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro (ABIH-RJ), Paulo Michel, a expectativa é a de que 68% do total dos turistas que tenham decidido aproveitar o carnaval no Rio seja de brasileiros. Ele lembra que essa proporção era praticamente inversa antes de 2008, ano de eclosão da crise econômica nos EUA, numa faixa de 60% de estrangeiros e 40% de brasileiros. Tal fato ocasionou uma redução nas reservas em hotéis de luxo, que registravam, na quinta-feira (17), lotação de 83,63%. O fato faz com que a expectativa de faturamento com turistas durante o Carnaval carioca não seja tão animador quanto em anos anteriores.

“O carnaval do Rio era, reconhecidamente, um evento internacional, e esse ano é nacional. Isso não é definitivo, especialmente pela crise na Europa”, afirma Paulo. “A maior parte dos estrangeiros ficava em redes conhecidas e hotéis de luxo. Por isso, esse setor está demorando a alcançar a lotação máxima”, revela.

Uma possível queda de padrão no faturamento do Rio durante o Carnaval preocupa. Ainda mais quando são analisados os números das perdas causadas na produção industrial, quando a produção é interrompida por causa, principalmente, de feriados prolongados. Um estudo feito pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) mostra que, em 2012, estima-se que as perdas ocasionadas pelos feriados nacionais e estaduais à indústria brasileira podem chegar a R$44,9 bilhões, valor 21% acima do estimado para 2011. 

Em 2012, Rio de Janeiro e Acre são os estados com o maior número de feriados estaduais em dias de semana (3). Consequentemente, são também os de maior perda relativa, 5,3% do PIB industrial. No estado fluminense, esse montante seria suficiente para cobrir quatro vezes o investimento estimado para a construção da linha 4 do Metrô ou três vezes a construção do corredor T5 do BRT, que ligará o aeroporto Tom Jobim à Barra da Tijuca.

Uma pesquisa realizada no carnaval de 2011, pela  UniverCidade, identificou a proporção de turistas estrangeiro no Rio: 50% vêm da Europa, 30% dos Estados Unidos, 15% da América do Sul e 5% da Ásia. Antes do agravamento da crise na União Europeia, os turistas permaneciam na cidade de quatro a sete dias, com gasto médio entre US$ 90 a US$ 140 por dia.

O superintendente do SindRio, Darcilio Junqueira, ressalta que o bom momento econômico do país permite aos brasileiros viajar mais. Ele concorda que os estrangeiros já foram a base do turismo na cidade, mas o cenário este ano é diferente. O tradicional hotel de luxo Copacabana Palace, por exemplo, apresentou queda significativa no número de visitantes do exterior. Em 2012, 34% dos hóspedes serão brasileiros, dobrando a tradicional proporção, que era de 17% em 2005, informou o SindRio.

“O turismo nacional ganhou força esse ano. Quando ele cresce, aquece a economia nacional", afirma Junqueira. 

Flamengo, Botafogo e Centro

Até a quinta-feira (16), a ABIH informou que 92,43% dos hotéis da cidade estavam ocupados. Curiosamente, os bairros de Ipanema e Leblon, com 91,62% dos quartos reservados, e Copacabana e Leme, com 89,84%, que tradicionalmente lideram os índices de reservas, foram ultrapassados pelas hospedagens de Flamengo e Botafogo, região mais procurada com 97.5%, e Centro, com 96.45%.

Segundo Junqueira, a escolha por essas áreas se dá por sua proximidade com o Sambódromo, maior chamariz de turistas para o carnaval carioca, de blocos de rua tradicionais e pelos preços mais modestos dos hotéis dessa região. Ele explica que o perfil do viajante brasileiro é o de buscar, além dos desfiles das escolas de samba, as concentrações dos blocos.

O Hotel Mercure, localizado em Botafogo, revelou que a maioria dos hóspedes são brasileiros, e o pacote, com o mínimo de quatro dias, sai em média por R$ 1 mil por dia, dependendo da categoria do quarto e do número de pessoas.

Albergues

Se a crise econômica na Europa e nos Estados Unidos causou um esvaziamento nos hotéis de luxo, nos albergues - hotéis mais baratos onde geralmente se divide quartos com outros viajantes - a ocupação continua sendo praticamente de turistas estrangeiros.

Segundo Dana Breda, gerente do Vila Carioca Hostel, em Botafogo, na época do Carnaval a procura ainda é majoritariamente de visitantes do exterior. A hospedagem teve toda sua capacidade preenchida duas semanas antes dos festejos.

“No Carnaval, cerca de 90% de nossos hóspedes são estrangeiros. Os europeus continuam a vir bastante. A crise econômica não afetou a vinda deles, até porque eles se programam e costumam fazer a reserva no meio do ano anterior”, disse.

O pacote para o feriado no albergue custa, em média, R$ 130, com um mínimo de sete noites de estadia.

Turista brasileiro

O diretor de Estudos e Pesquisas do Ministério do Turismo, José Francisco Lopes, informou que o turismo interno no Brasil tem crescido nos últimos anos. Ele aponta o crescimento econômico nacional como uma das causas desse aumento. 

"Cerca de 85% do turismo no Brasil é doméstico. Em 2010, nossas pesquisas revelam que 186 milhões de pessoas viajaram pelo país", afirma. "A cada dez brasileiros que viajam pelo Brasil, somente um viaja para o exterior. Cerca de 70% dos brasileiros que viajaram para o exterior disseram que visitaram outros locais do país no mesmo ano", disse, ressaltando que o turismo está concentrado nas classes A, B e C.

Em relação aos estrangeiros, o país recebeu, em 2011, cerca de 5,4 milhões de viajantes, e a expectativa de Lopes é a de que esse número aumente este ano. Segundo ele, os turistas que viajam a lazer têm um perfil jovem e boa formação cultural. 

"O cidadão que visita o Brasil é relativamente jovem, a maioria abaixo dos 45 anos. A formação cultural desses estrangeiros é muito elevada, tendo, no mínimo, graduação universitária. Eles gastam cerca de R$ 1.200 por viagem, em média, ficando de 12 a 16 dias no país", conta.

Apuração: Luciano Pádua